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Anuptafobia: entenda o medo de não encontrar um parceiro

Por Francine Costanti 27/07/2020

Ainda nos dias de hoje, as mulheres são cobradas o tempo todo para terem relacionamentos e o julgamento pode vir tanto de homens, quanto de outras mulheres. Isso acontece porque vivemos em uma sociedade que valoriza quem está em um relação, que tem companhia, e critica quem está solteiro, pois criou-se a impressão de que se você está sozinho tem algum problema. 

Essa cobrança afeta tanto o psicológico de algumas mulheres, que desenvolveram uma fobia chamada “anuptafobia”, que é o medo de não encontrar um parceiro e, por isso, acabar caindo em relacionamentos vazios e errar constantemente em alguns fatores que envolvem a vida amorosa. Esse tipo de fobia precisa de atenção e, principalmente, de tratamento.

Conversamos com o Dr. Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP, membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA), que conta um pouco mais sobre a anuptafobia e revela sinais que indicam quando alguém pode estar desenvolvendo a fobia. Veja o papo: 

Fortíssima: O que é anuptafobia?

Dr. Luiz Scocca: Anuptafobia é uma fobia específica, o medo irracional – de fato o pavor – de ser ou permanecer solteiro. É uma palavra de origem híbrida do grego com o latim: a-(gr.)= não + nuptiae-(lat.)= núpcias ou casamento, phobos-(gr.)= medo. 

Incluímos fobias específicas entre os transtornos de ansiedade na categoria das fobias simples, como as de insetos, ou de altura, ambientes fechados, muito comuns. Mas existem a mais diversas e exóticas fobias que se possa imaginar, e para nomeá-las basta acrescentar – fobia no final (exemplo: aracnofobia é medo de aranha). 

Assim, se você não suporta a ideia de permanecer solteiro, rapidamente se envolve, muitas vezes por critérios ruins, ou se mantém em relacionamentos infelizes e até abusivos, pode ser porque sofre de anuptafobia.  

O transtorno atinge homens e mulheres de todas as idades?

O transtorno não apresenta muita literatura e, certamente, nenhuma revisão específica. Mas é uma fobia específica – fobia simples – e cerca de 12,5% dos adultos americanos apresentam fobias simples em algum momento da vida dos mais diversos tipos. Nossas estatísticas são semelhantes. 

Porém, é mais comum em mulheres. Fobias simples são mais frequentes em mulheres de maneira geral. Mesmo que não haja nenhum trabalho epidemiológico publicado no Brasil, temos uma estimativa que, sim, as mulheres sofrem mais com anuptafobia.

Algumas mulheres sentem medo excessivo de não encontrarem um parceiro para toda vida.  Foto: iStock

Por que existe esse medo  de ficar só? 

Há muito pouco escrito sobre essa fobia e acredito que na medida que a mídia divulgue essa expressão, mais pessoas possam identificar-se com o problema. Mas muitos pacientes que nos procuram temem não encontrar o par ideal, não conseguirem se casar, abrir mão de quem já não gosta ou “gosta, mas não gosta” e mantêm-se em relacionamentos até violentos. 

Emendar uma relação na outra é considerado anuptafobia?

Não necessariamente, particularmente nessa época de relações líquidas e baixa tolerância à frustração, quando qualquer motivo leva à separação e aplicativos como Tinder fazem muito sucesso. Isso pode ser motivado por outras razões, diversão, passa-tempo, conhecer gente, sem caracterizar anuptafobia. 

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A anuptafobia pode estar relacionada com ansiedade e depressão?

Sim e muito! Cada vez mais entendemos que os transtornos mentais com muita frequência acontecem associados, ou seja, em comorbidade com outros transtornos mentais, ou porque um leva ao outro ou porque há uma propensão genética para o outro ou outros acontecerem. É o caso com a depressão e com outros sintomas de ansiedade. 

Outro fato importante é que, embora não tenhamos provado a origem das fobias, componentes genéticos e histórico de vivências ambientais (traumas, violência doméstica, famílias disfuncionais) se combinam para causar os transtornos mentais. 

Como posso reconhecer em mim os primeiros sinais da doença?

A melhor maneira é procurar um profissional de saúde mental (psiquiatra, psicólogo), mas aqui vão algumas dicas:

Você está sempre em relacionamentos, muitas vezes simultaneamente. Um transtorno que se relaciona à anuptafobia é a gamofobia, que é o medo mórbido de se casar. Estes também, ,muitas vezes estão em diversas relações, mas têm medo de se fixar a uma, se comprometer. O anuptafóbico não suporta ficar só, pois tem em mente se casar. 

Outro sinal é não escolher criteriosamente a(o) parceira(o), simplesmente fechando os olhos para coisas que obviamente não darão certo, como diferentes níveis sócio-econômicos ou formação intelectual. 

Claro que não é impossível haver diferenças, mas no caso elas são gritantes e quando familiares e amigos tentam alertar é justamente deles que o anuptafóbico foge. Detalhe, mesmo que seja uma relação abusiva. 

Outro comportamento interessante é que, quando acontece separação, o anuptafóbico tenta com frequência manter contato com o ex, e com frequência reata, mesmo sabendo que as chances de nova frustração sejam grandes. “Quem sabe dessa vez ela mudou?”. 

Outro sinal acontece no início da relação. O anuptafóbico vem com tudo para cima, pergunta se quer casar, se mudaria de bairro, deixaria de fumar… tudo no primeiro encontro, por vezes usando o sexo e a culpa, sequer permitindo que o processo aconteça com naturalidade. 

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É necessário tratamento para controlar os sintomas?

Sim, é claro que dependendo da gravidade até medicação deve ser empregada. Muitas vezes terapias analíticas que buscam o autoconhecimento. Outra terapia é cognitivo-comportamental, mais voltada para mudança na maneira de avaliar os pensamentos e sentimentos e mudá-los. 

Para um tratamento específico e eficaz, procure psiquiatras e psicólogos, que são especialistas em comportamento humano e podem te ajudar a resolver o problema em etapas. 

Como aprender a ficar sozinho(a) e se sentir bem com isso?

Envolve todo um programa de recuperação de autoestima e tratamento de comorbidades como depressão, fobia social, pânico etc. Ficar um tempo sozinho, principalmente em terapia, vai ajudar a pessoa a se conhecer melhor, perceber que pode viver sozinha, e que se tiver que haver outra pessoa em sua vida isso acontecerá por uma escolha madura.

A pessoa precisa saber que querer formar um casamento não é um conto de fadas: é um empreendimento de vida, não acontece para encontrar a felicidade eterna, que não existe. 

Estar feliz depende unicamente de você com você mesmo. É melhor acompanhado para haver ajuda mútua, projetos juntos e espaços de individualidade. Então, faça um “estágio consigo mesmo”. Autoconhecimento vale a pena: aumenta a autoconfiança e abre portas para relacionamentos mais maduros.