É cada vez mais comum que as pessoas que desejam trocar de gênero sintam-se mais livres para isso. Homens que acreditam ter nascido no corpo errado assumem-se mulheres. O mesmo acontece com mulheres que descobrem-se homens. Nesse contexto, uma situação vem ganhando espaço nas discussões a respeito da transição de gênero: a criança transexual.
Sim, existem crianças que apresentam variação de gênero ou expressão de gênero atípico. Essa não-conformidade, tanto em adultos quanto em crianças e adolescentes, refere-se ao grau em que a identidade, o papel ou a expressão de gênero difere das normas culturais.
Quem explica é a psicóloga Bianca Soll, que integra o Programa de Identidade de Gênero (Protig), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), uma das três referências nacionais no assunto.
“Após os cinco anos, quando se espera que a identidade de gênero já esteja consolidada, algumas crianças apresentam o que classificamos clinicamente como ‘disforia de gênero na infância’ que é o desconforto ou mal-estar causado pela incongruência entre a identidade de gênero da criança e o sexo a ela atribuído no momento do nascimento”, explica Bianca.
Criança transexual é resistente
Assim, quando sinaliza ser uma criança transexual, é possível que prefira roupas, brinquedos e jogos que são comumente associados ao sexo oposto e evite brincar com crianças do mesmo sexo, como uma criança do sexo feminino que afirme se sentir como um menino, que prefira atividades e brincadeiras masculinas.
Pode ser também que a criança transexual manifeste o desejo de desenvolver características sexuais do sexo oposto quando crescer, ou que rejeite as características sexuais do seu sexo de nascimento. O cuidado que se deve ter é que na maioria das crianças, a disforia de gênero desaparecerá antes ou ao início da puberdade.
Os estudos mundiais de acompanhamento dessas crianças apontam que com os pré-púberes, a disforia persistiu até a idade adulta em apenas 6-23%. Mas em algumas crianças, esses sentimentos se intensificam, e a aversão ao corpo desenvolve ou aumenta à medida que chegam à adolescência e suas características sexuais secundárias se desenvolvem.
Como lidar com uma criança transexual
Diante dessas evidências, é comum que a maioria dos pais se pergunte como proceder e como lidar com a situação quando constata que seu filho é uma criança transexual. A resposta de Bianca é curta: acolher.
Ela diz que é relativamente comum que crianças com disforia de gênero tenham distúrbios internalizados como ansiedade e depressão, e que são bastante vulneráveis ao estigma e preconceito social. “Assim, as famílias têm um papel muito importante na saúde emocional e no bem-estar dessas crianças”, assinala.
E foi exatamente o que fizeram os pais do pequeno Ryland Whittington, de seis anos. Ele nasceu menina, no entanto, jamais teve identificação com o sexo feminino. O resultado eram questionamentos e frustrações.
Os pais aceitaram a condição de criança transexual e participaram da transição de gênero do pequeno, inclusive gravando em vídeo todo o processo, que começou aos cinco anos de idade.
Bianca explica que o papel dos profissionais de saúde deve ser de ajudar as famílias a ter uma resposta amigável e educacional para as preocupações de sua criança ou adolescente com disforia de gênero.
Além disso, o profissional deve estabelecer estratégias de enfrentamento diante do estigma social, diminuindo a angústia diante da condição do jovem e também as dificuldades psicossociais.
“Em conjunto com o acolhimento psicossocial, existem tratamentos disponíveis para ajudar as pessoas com esse tipo de desconforto a explorar sua identidade de gênero e encontrar um papel de gênero que seja confortável para elas”, diz a psicóloga.
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