A palavra resiliência, também chamada resilência, é derivada do latim resilientia, do verbo resilio (re + salio) que significa “saltar para trás”, recuperar-se, voltar ao “normal”. Foi utilizada pela primeira vez pelo físico Thomas Young (1807) que a definiu como a capacidade de um objeto, material ou corpo de sofrer pressão ou impacto e, depois, voltar à forma original, não perdendo, deste modo, suas propriedades. Por exemplo, um elástico, uma vara que se verga, uma borracha, etc.
Psicologicamente, a resiliência é a capacidade de “psicoadaptação” de indivíduos, grupos e/ou de organizações, de voltar ao seu estado “normal”, após alguma situação traumática ou crítica, ou seja, é a capacidade de superar adversidades. A resiliência demonstra se uma pessoa sabe ou não “funcionar” bem sob pressão, se sabe superar desafios, ter flexibilidade e postura otimista, com projetos de vida claros e definidos, o que não quer dizer ser irrealista, fantasioso ou “não-efetivo”.
Como dito anteriormente, é uma palavra “emprestada” da Física, mas que não se aplica adequadamente para nós, indivíduos contextualizados, visto que nunca voltamos a ser a mesma pessoa de antes, pois somos atravessados por nossa experiência pessoal e relacional e a esta damos sentido(s) e significado(s).
A resiliência é inata ou adquirida?
Existem pessoas mais resistentes, e outras, menos. Até em irmãos gêmeos neonatos observamos comportamentos diversificados. No entanto, a resiliência psicológica não é inata, mas desenvolvida através de processos dinâmicos de aprendizagem, bem como de nossas escolhas em busca do auto-conhecimento, do auto-questionamento e da auto-avaliação, da busca de sentido e significado que na maioria das vezes fazemos em momentos de crise e que uma vez superada a dificuldade, saímos de cada experiência fortalecidos, se tivermos a compreensão dos obstáculos vivenciados e superados.
É importante dar sentido as dificuldades como oportunidade de mudança e crescimento. É muito diferente de ser uma pessoa resistente, ou seja, aquela que suporta a pressão, a crise e os momentos de stress da vida. Ser resiliente é muito mais que suportar as intempéries, é aprender a visualizar a crise como uma oportunidade de crescimento e mudança. Em outras palavras, é “dar a volta por cima”.
Podemos praticar a resiliência em nove passos. Vale a pena ressaltar que uma pessoa pode ser mais resiliente em um determinado aspecto da vida, mas em outro, nem tanto. Vale a pena refletir e verificar aqueles que precisam ser desenvolvidos:
1- Aprenda a administrar as emoções:
A emoção faz parte do ser humano, ou seja, não adianta negá-la ou reprimi-la e sim, reagir de maneira harmoniosa e equilibrada diante das situações. Se você não souber administrar as emoções, sua vida pessoal, social e profissional vai ser dificultada. Seja onde for, em casa, com os amigos, ou no trabalho é necessário utilizar sua inteligência emocional.
2- Controle seus impulsos:
Este item é ponto crucial e está diretamente relacionado com o anterior. Tenha muito cuidado! Quando tiver uma raiva, respire fundo, pense muitas vezes (conte até 10…conte até 1000). Nunca se esqueça: em um momento de raiva você pode, por exemplo, destruir sua imagem, um projeto ou uma relação que levou muito tempo para construir. Como disse Friedrich Schiller: “Breve é a loucura e longo o arrependimento.” Seja responsável por suas atitudes, pense e repense antes de tomar uma decisão ou de fazer algo que lhe trará consequências a curto ou longo prazo.
3- Seja otimista:
O otimismo é a crença ou perspectiva de um futuro melhor. Acreditar que as coisas irão melhorar, nos fortalece e nos revigora. Não se esqueça que do “fundo do poço” também podemos ver as estrelas, basta olhar para o alto. Mude sua postura, mude de foco, olhe para a frente, visualize e acredite em um futuro melhor e faça por onde.
4- Desenvolva a autoeficácia:
A autoeficácia é a utilizaçao de seus recursos internos, a chamada “luz interior”. A autoeficácia anda de mãos dadas com o otimismo e o autoconhecimento.
5- Aprenda a analisar o ambiente:
Aprender a analisar o ambiente é verificar através de uma leitura ambiental quais são as contingências ameaçadoras ou de risco e a partir desta leitura, desenvolva estratégias de enfrentamento para estas situações. Muitas vezes, através de uma observação sensível de determinados aspectos, encontramos respostas e soluções para os problemas. Entre em receptividade com o ambiente, desenvolva a sensibilidade e analise-o antes de atuar.
6- Alcançar pessoas:
É a busca de auxílio externo, de suporte afetivo-emocional que são provenientes da família e dos grupos de apoio eficazes.
7- Busque um sentido em sua vida:
Tenha propósitos, metas e objetivos de vida específicos.
8- Desenvolva a empatia:
A empatia é a capacidade de compreender a partir da perspectiva do outro, de colocar-se no lugar do outro. O desenvolvimento da empatia melhora substancialmente a qualidade de seus relacionamentos interpessoais.
9- Busque ajuda externa:
Gostaria de corroborar aqui uma questão importante: Ninguém é resiliente sozinho; ninguém é autossuficiente. Busque ajuda externa. O ser humano é atravessado pela dimensão pessoal (subjetiva), interpessoal (comunitária), cultural, política e espiritual. O homem foi feito pra viver em comunidade e procurar auxílio, auxiliar, bem como encontrar soluções dentro de um contexto social que beneficie a todos. Como disse Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável,o sofrimento é opcional”
Desenvolvendo a resiliência
Situações críticas de dor e tragédia, como separações, rupturas, violência, conflitos, luto, perdas, decepções, doenças, bem como dos desafios que fazem parte da nossa vida são importantes para o nosso processo de desenvolvimento psíquico e emocional. Saber lidar com nossa condição humana de sofrimento e mudanças contínuas é o ponto chave a ser trabalhado para lograr uma vida mais harmoniosa e feliz, pois na vida estamos sujeitos a tudo.
Se você parar neste momento para refletir e enumerar o quanto de dificuldades já enfrentou em sua vida (e que ainda vai enfrentar) e das vezes que já conseguiu “dar a volta por cima”, e que saiu vitorioso, você acreditará sempre em um “novo amanhã”, um “recomeçar”, uma “luz no fim do túnel”. Não se vitimize, assuma as rédeas da sua vida!Uma mente tumultuada e atribulada não consegue pensar direito. Confie! A vida vale a pena ser vivida.
Erga sua cabeça, tenha fé! Nunca foi dito que não teríamos na vida momentos de dificuldades. E ironicamente, muitas vezes são estas mesmas dificuldades que praguejamos, as que estão disfarçadas em grandes oportunidades e nós não sabemos reconhecê-las, porque aprendemos a ver somente o lado ruim das coisas.
Observe as possibilidades a sua volta, não se fixe tanto nos problemas, pois tem coisas que embora queiramos controlar, estas fogem do nosso controle. Então, dê um tempo para que o caos se reorganize. Não entenda isto como uma postura passiva. Faça o que estiver ao seu alcance, faça o que você puder fazer, mas não pretenda ter o controle de tudo, além de impossível, é desgastante.
Então, se você está passando por um período de crise existencial ou se encontra cheio de anseios, medos e angústias, procure desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com suas questões; busque ajuda externa, suporte familiar, social e/ou profissional. Você verá que se trata apenas de uma fase e que na verdade um futuro cheio de amor, paz e prosperidade chegará. Tudo na vida passa e tudo é aprendizado. Procure se auto-conhecer, você deve aprender a desenvolver seus recursos internos. Aprenda técnicas de relaxamento, respiração e meditação; se tiver tempo, pratique esportes. Procure conhecer algo novo, desenvolva novos propósitos de vida, busque construir uma nova realidade, se renove!
Outro ponto importante
É necessário ter paciência; a vida é cheia de ciclos, altos e baixos. Observe a natureza, um ciclo termina para iniciar outro. Tudo requer tempo e aprendizado. Observe as coisas que já conquistou. Agradeça as coisas que tem, ao invés de reclamar aquelas que ainda não possui (ou que perdeu). Não existem perdas: o que se foi cumpriu o seu propósito. Seja capaz de colocar em primeiro plano as coisas boas da vida e não dar importância relevante às coisas menos agradáveis, já que tudo passa, é transitório. As experiências de vida devem deixar um legado de aprendizagem e construir o patrimônio de valores que deverão nortear a nossa vida de maneira a proporcionar essa construção contínua do nosso ser que não está e que nunca estará pronto.
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