Medicamentos

Uso de remédios tarja preta cresce na rede municipal de São Paulo

Por Redação Doutíssima 14/10/2015

Os medicamentos controlados, também chamados de tarja preta devido aos fortes efeitos que causam no organismo, são cada vez mais procurados em farmácias da Prefeitura de São Paulo. É isso que aponta um levantamento de dados feito pela Secretaria Municipal de Saúde.

Em relação às drogas prescritas na rede pública, é possível perceber variações no período entre 2010 a 2014, no que se refere aos atendimentos a usuários que necessitaram de medicamentos antidepressivos, antipsicóticos e ansiolíticos. A busca pelos antidepressivos foi a mais expressiva.

O número de atendimentos com prescrição de remédios tarja preta para tratamento da depressão subiu 41,2% em quatro anos, passando de 841.244 em 2010 para 1.188.591 em 2014. Os gastos com essas drogas, naturalmente, também aumentaram. Há cinco anos, foram gastos R$ 1.286.993 com antidepressivos diante de mais de R$ 7 milhões em 2014, um crescimento de 443,9%. 

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Medicamentos tarja preta são cada vez mais procurados em farmácias da prefeitura paulista. Foto: iStock, Getty Images

Ministério da Saúde faz alerta 

Um dos principais focos de atenção das instituições governamentais em relação aos medicamentos tarja preta é a prescrição de medilfenidato. Utilizada para tratar déficit de atenção e hiperatividade, a droga tem sido indicada especialmente para crianças, devido aos sintomas que se manifestam já antes dos sete anos.

Segundo dados da Secretaria de Saúde de São Paulo, aumentou em 2.851 o número de atendimentos para prescrição de medilfenidato entre 2010 e 2014. O Ministério da Saúde lançou uma cartilha com recomendações para adoção de práticas não medicalizantes, com o intuito de prevenir a medicalização excessiva de crianças e adolescentes.

Dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Usuários de Medicamentos apontam que o Brasil se tornou o segundo mercado mundial no consumo de medilfenidato. De acordo com informações divulgadas pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o consumo aumentou em 775% nos últimos dez anos.

Assim, a cartilha divulgada pelo Ministério da Saúde enfatiza que “o diagnóstico e o tratamento dos casos de transtorno hiperativo exigem uma abordagem complexa de múltiplos fatores que podem levar as crianças à manifestação desses sintomas”. Por isso, o tratamento precisa estar alinhado com medidas educacionais, sociais e psicológicas.

Causas do aumento no uso de tarja preta

Em entrevista à TV Cultura, o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha, reforçou que a pergunta que precisa ser feita diante dos dados expressivos sobre o aumento no uso de medicamentos controlados é: “será que a cidade está ficando doente?”. Essa é a preocupação atual.

“Há algo na forma de vida da cidade de São Paulo, pode ser a agitação ou até mesmo o fato de termos perdido espaços de convivência, que faz com que problemas de saúde mental cresçam cada vez mais na cidade”, afirmou Padilha. Por isso, diante do alerta do aumento do uso de antidepressivos e ansiolíticos, algumas medidas deverão ser tomadas.

“A primeira medida deve ser a promoção da saúde na cidade. Por exemplo: hoje nós temos 150 grupos que promovem atividades físicas e corporais nas unidades de saúde. A ordem é que agora esses grupos saiam da unidade de saúde e também se dirijam às praças e outros espaços públicos”, salientou o secretário.

Apesar da cautela em relação ao crescimento no uso de medicamentos tarja preta, Padilha avalia que há um ponto positivo nesse cenário. “Esse aumento também significa que a prefeitura está ampliando o acesso aos remédios para quem mais precisa”, pontuou. De acordo com ele, o maior desafio agora é fazer um uso racional dessas drogas, para que não haja abusos.

O secretário concluiu a entrevista destacando que nenhum problema de saúde mental pode ser tratado apenas com remédio. “É preciso ter acompanhamento de outros profissionais, como psicólogos, terapeutas ocupacionais e educadores físicos. Isso pode ajudar a reduzir o uso abusivo de medicamentos”, concluiu.

 

 

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