Tem uma frase de Carlos Drummond de Andrade que sempre me chama atenção:
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”.
Sabiamente falou Drummond no verso anterior sobre vida e relacionamentos. Observo no dia a dia na clínica, nos textos, nos estudos, nos atendimentos clínicos, nos pessoas em geral, em mim mesma, o quanto o homem se boicota e se afasta de uma vida saudável e feliz. Claro que, na maioria das vezes, isso não é consciente, e é exatamente pra ter consciência disso, e de muitas outras coisas, que se dá o trabalho da psicoterapia.
Campo de possibilidades
O fato é que temos todo um campo de possibilidades ao redor, possibilidades de vida, dentro de determinado contexto, realidade e escolhas. Campo esse onde podemos buscar e encontrar melhores relações, saúde, melhores formas de viver. Por mais difícil que seja, o ser humano tem um potencial para a transformação, superação e resiliência. Porém, o que acontece, na maioria das vezes, é que vivemos não dando amor por medo ou por não saber amar, não usando nossas forças pra arriscar, escolher, transformar. Vivemos de forma egoísta e estamos sempre tentando nos protegendo do sofrimento e de outros sentimentos julgados ruins. Assim, nos protegemos tanto de tudo e de todos que também nos protegemos e nos afastamos da felicidade, de uma vida feliz.
A vida é imprevisível
Viver é sempre um risco imprevisível. Não temos controle sobre a vida em geral. Não podemos controlar sempre da forma que queremos. Nos iludimos achando que podemos evitar algum fato ou acontecimento. Podemos escolher dentro de nosso campo de possibilidades, mas não temos controle total da nossa vida e de seus riscos. Não há previsões para o futuro. Ou pelo menos, na grande maioria das vezes.
Viver é um risco e saber viver é preciso. Drummond sabia de seu maior desperdício. Deixar de viver. Se esquivar. Não usar nossas forças em prol de encontrar o caminho da nossa própria felicidade. Felicidade essa que só eu poderei saber, que é individual e particular. Só eu poderei dizer e encontrar, pois o meu caminho sou quem faço.
