Há pouco tempo estava participando de uma roda de conversa, de um amigo psicólogo, que falava sobre TDAH. Ficamos discutindo juntos com as pessoas presentes (pais, professores, psicólogos e outros profissionais) como infância de hoje está sobrecarregada de estímulos, tarefas, compromissos, e como isso afeta as crianças, seus relacionamentos, vida escolar e sua vida em geral. A infância se transformou em uma corrida rumo à perfeição, e as crianças, em mini executivos com agenda sempre lotada.
Li uma reportagem sobre isso e achei interessante escrever algo sobre o tema. Descobri que existe um movimento que busca exatamente uma desaceleração da infância. São os partidários do “slow parenting” (pais sem pressa), movimento que prega que as crianças tenham menos compromissos e mais tempo para fazer nada.
A ideia
A ideia surgiu na Europa e EUA, e segundo a reportagem, tem ganhado força aqui também. Há pouco tempo, a primeira edição do “SlowKids”, evento em prol da desaceleração da rotina das crianças, levou 1.500 pessoas ao parque da Água Branca, em São Paulo. A programação continha atividades nada tecnológicas, como oficina de jardinagem, brincadeiras antigas e piquenique.
As crianças diante de tantas atividades podem ficar estressadas e ter dificuldades de criatividade e concentração. Por isso é tão difícil pra elas se adaptar aos moldes da escola que exige certa atenção e concentração em atividades pouco tecnológicas.
A reportagem citava a psicanalista Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP. Esta afirma que a educação de resultados antecipa o ensino de ferramentas para competir no mundo corporativo. “Vejo crianças aprendendo mandarim porque os pais acham ser importante para o futuro.” As atividades extras não garantem que a criança vá aprender mais, diz Mandelbaum. “Muitas vezes, elas só aprendem a se adaptar a esse ritmo louco.”
Assim, trazendo também a fala da neuropsicóloga Adriana Fóz, coordenadora do projeto Cuca Legal, da Unifesp. “A criança fica frustrada pelo excesso de atividades e pela falta [quando se acostuma à agenda cheia]. Fica entediada com mais facilidade.” Não que toda atividade extra deva ser evitada, mas é preciso respeitar o tempo da criança. Nos confirmando o quanto essa rotina agitada das crianças pode ser prejudicial.
“O ócio estimula a criatividade e a curiosidade por temas e experiências diversas”, afirma a educadora e antropóloga Adriana Friedmann.
Espaço é preciso
Somos estimulados por tanta correria e competição do mercado de trabalho e isso está começando cada vez mais cedo. Ouvi relatos de crianças que estudam mais de três línguas já com o objetivo de se preparar para o mercado de trabalho. Acredito que estamos acelerando as coisas. Pulando etapas. Ensinando as crianças que o único caminho é a correria, o estresse, a competitividade. E assim, não damos espaço para a maturação necessária do viver. Espaço para espera, para a falta, para o estímulo da criatividade. Espaço essencial para a saúde, seja mental, seja física.