Se você está com sobrepeso ou obeso, seu sistema digestivo pode ser a raiz de diversos desconfortos.
“Se você tem algum tipo de sintoma digestivo, como distensão abdominal, constipação ou diarreia, azia ou queimação, peso no estômago após se alimentar, refluxo gástrico, gazes, dentre muitos outros sintomas desagradáveis, você pode estar sofrendo de gastrite, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), Síndrome do Intestino Irritável, colite ou algum outro tipo de patologia do aparelho digestório, inclusive câncer. E você não está sozinho. Milhares de brasileiros têm problemas semelhantes”, afirma o gastroenterologista Silvio Gabor.
Há mais de 200 medicamentos (OTC) para distúrbios digestivos, muitos dos quais podem criar problemas digestivos adicionais à venda livremente nas farmácias. Consultas em razão de distúrbios intestinais estão entre os motivos mais comuns para os agendamentos com clínicos gerais.
E essas nem são as piores notícias sobre o assunto. A maioria das pessoas não reconhece ou sabe que os problemas digestivos causam estragos em todo o corpo, levando a alergias, artrite, doenças autoimunes, erupções cutâneas, acne, fadiga crônica, transtornos do humor, demência, câncer e muitas outras doenças.
“Então, ter um intestino saudável significa mais do que simplesmente estar livre de incômodos, como inchaço ou azia. É absolutamente fundamental para a saúde. A saúde intestinal está relacionada a tudo o que acontece no corpo. É por isso que, muitas vezes, começamos a tratar um paciente com problemas de saúde crônicos, regularizando o funcionamento do sistema digestório, desde a alimentação até a evacuação”, observa o médico.
“A saúde do intestino significa que os nutrientes são absorvidos e que as toxinas, os alérgenos e os micróbios patogênicos (causadores de doença) são mantidos fora do organismo. Está diretamente ligada à saúde do seu corpo inteiro. A saúde intestinal pode ser definida como a correta digestão, absorção e assimilação dos alimentos, e a eliminação do que não é aproveitado pelo nosso organismo. Mas isso é um trabalho que depende de muitos outros fatores”, diz o gastroenterologista.
Primeiro, segundo Silvio Gabor, há bactérias no intestino que formam um ecossistema diversificado e interdependente como uma floresta tropical. Na verdade, existem cerca de 500 espécies e perto de 3 quilos de bactérias no intestino que funcionam com se fossem uma fábrica química enorme que ajuda a digerir e absorver a comida, regular os hormônios, produzir vitaminas e outros compostos e excretar as toxinas, o que ajuda a manter o intestino e o corpo saudáveis. Este ecossistema de bactérias “amigáveis” ??deve estar em equilíbrio para que você esteja saudável. Quando acontece o desequilíbrio, aparecem as infecções intestinais, em seus vários graus de gravidade.
Organismos agressores, como bactérias “não amigáveis”, vírus, parasitas e leveduras podem prejudicar seriamente a saúde intestinal. Então, manter um equilíbrio saudável das bactérias no intestino é um dos fatores para a boa saúde intestinal.
Em segundo lugar, há o sistema imunológico. O intestino é uma verdadeira porta de entrada para vários organismos e toxinas. Essa entrada livre não acontece, pois o corpo fica isolado e protegido do ambiente tóxico do seu intestino por um forro, isto é, uma camada de células capazes desse isolamento, conhecida como camada mucosa. Se este revestimento for danificado ou algum agente agressor conseguir atravessá-lo, então seu sistema imunológico entra em ação, destruindo esse agressor e criando anticorpos para evitar novas tentativas desses agentes.
“Se por algum motivo físico ou emocional, seu sistema imunológico se tornar hiperativo, você pode se tornar alérgico a alimentos que você era capaz de digerir. Em algumas pessoas, o sistema imunológico pode começar a não reconhecer a camada mucosa como própria do corpo e criar anticorpos contra ela, produzindo inflamações intestinais crônicas, como retocolite ou Doença de Crohn”, explica o médico, que também é professor assistente de Cirurgia Geral e do Trauma da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Em terceiro lugar, há o “segundo cérebro”, o sistema nervoso de seu intestino. Você sabia que o intestino contém um número enorme de neurotransmissores? Na verdade, o intestino tem um “cérebro próprio”. Ele é chamado de sistema nervoso entérico, e é uma peça muito sofisticada em sua biologia, ligada ao cérebro de maneiras complexas. Mensagens são trocadas constantemente entre o “cérebro do intestino” e o “cérebro da cabeça”.
“Alterações nesse mecanismo levam ao funcionamento inadequado do intestino. Ele pode tanto funcionar aceleradamente (diarreias) com lentamente (constipação intestinal). Quando isso ocorre, a saúde fica abalada. São as doenças funcionais do intestino, das quais a mais popularmente conhecida é a Síndrome do Intestino Irritável”, afirma Gabor.
Em quarto lugar, o intestino também tem que se livrar de todas as toxinas produzidas como subprodutos do metabolismo, os catabólitos. Essas substâncias são eliminadas com as fezes e não devem ser absorvidas. Se este processo não acontece naturalmente, a pessoa ficará constipado ou terá diarreia, e sua saúde será ameaçada. Casos assim acontecem nas intoxicações alimentares.
“E por último, mas muito importante, o intestino deve ser capaz de quebrar e absorver todos os alimentos que comemos. A trituração e preparação para absorção é feita normalmente pelo estômago, e a absorção é feita no intestino. Dessas capacidades de trituração e absorção de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, para que eles possam entrar em sua corrente sanguínea e nutrir o corpo e o cérebro, dependem sua saúde física e mental. Casos de caquexia e desnutrição, assim como sobrepeso e obesidade, podem ocorrer por falhas nesses mecanismos”, observa Silvio Gabor.
O intestino necessita de um constante processo de gerenciamento e atenção. Mesmo em um mundo perfeito é difícil manter tudo isso em equilíbrio. Mas no mundo moderno, é muito mais difícil manter uma excelente saúde digestiva. A maneira mais fácil e adequada de manter a boa saúde intestinal é através de alimentação balanceada; observando o tipo de alimento, a quantidade ingerida e o tempo entre as refeições.
Como saber se seu intestino está desequilibrado?
Para assegurar uma boa digestão, primeiro é preciso saber o que pode desequilibrar o intestino. Confira a lista que o gastroenterologista Silvio Gabor organizou:
— Dieta pobre em fibras, com alto teor de açúcar e de alimentos processados, pobre em nutrientes e com alto teor calórico faz com que as bactérias “amigáveis” tenham seu trabalho dificultado e prejudiquem o ecossistema delicado do intestino
— O uso excessivo de medicamentos que prejudicam a função digestiva ou intestinal normal, como antiácidos, antiinflamatórios, antibióticos, esteroides, hormônios e medicamentos antidepressivos, dentre muitos outros medicamentos
— A intolerância ao glúten (doença celíaca) não detectada, ou graus variáveis de alergias a alimentos, como laticínios (intolerância à lactose), ovos ou milho, dentre outros
— Infecções crônicas ou desequilíbrios intestinais com crescimento de bactérias patogênicas no intestino delgado, crescimento de fungos e parasitas
— Toxinas como mercúrio, chumbo e mofo, que danificam a mucosa do intestino
— Falta de função adequada da enzima digestiva, que pode resultar do uso de antiácidos, ou deficiência de zinco e proteínas
— O estresse, que pode alterar o “sistema nervoso do intestino
“O que acontece, em qualquer uma das situações listadas anteriormente é óbvio. Você vai ficar com a sua saúde intestinal abalada. Em resumo, nosso combustível para que possamos caminhar, pensar, respirar, isto é, para que possamos ‘funcionar’ corretamente e ter todas as nossas funções fisiológicas normais, tem a ver com nossos hábitos alimentares”, defende o médico.
Então, faz-se necessário a conscientização de quão importante é cuidar da alimentação. São hábitos simples de serem adotados e que podem trazer para todas as pessoas uma qualidade de vida melhor e uma longevidade com saúde e disposição.
Para Gabor, seguir alguns hábitos irá prevenir e evitar situações de risco para a saúde
— Beber água todos os dias. Cerca de 35ml por quilo de peso (por exemplo, cerca de 2500ml para uma pessoa de 75Kg)
— Comer regularmente frutas, folhas verdes e grãos
— Ter uma alimentação equilibrada comendo carboidratos, proteínas, lipídios (gorduras), vitaminas e minerais
— Caminhar cerca de meia hora todos os dias