A oncofertilidade está em pauta no tema de saúde. A discussão sobre o assunto dá esperança a mulheres com câncer de engravidarem. Fertilidade e câncer serão temas tratados neste artigo pelo médico e parceiro do Doutíssima, o Dr. Bruno Ramalho de Carvalho. Ele é ginecologista, obstetra e especialista em distúrbios de fertilidade.
Entre 2008 e 2012, uma discreta diminuição do número de casos novos de câncer em homens e mulheres em idade reprodutiva foi documentada nos Estados Unidos. Da mesma forma, o número de mortes pela doença nesse período foi reduzido. Além disso, entre mulheres jovens que receberam o diagnóstico de câncer, a sobrevida em cinco anos foi de quase 85%.
Se por um lado assistimos a essa pequena queda de mortalidade pela doença e da redução de incidência de todos os cânceres, por outro as mulheres adiam cada vez mais a maternidade, pensando no crescimento profissional ou simplesmente pelo fato da ausência de um relacionamento com futuro. Nos últimos anos, como entre as mulheres norteamericanas, já temos um aumento de nascimentos de filhos de brasileiras com idade entre 30 e 39 anos. Também é observada uma redução clara de partos entre as mais jovens.
Ao unirmos essas duas realidades, é razoável imaginarmos que teremos cada vez mais cânceres em mulheres sem filhos e que, uma vez sobreviventes à doença, essas mulheres terão interesse pela maternidade. Sabemos, contudo, que em boa parte dos casos o futuro reprodutivo será comprometido por efeitos dos tratamentos do câncer, passageira ou permanentemente. Assim, é preciso informar àquelas mulheres sobre as chances da infertilidade, bem como apresentar as possibilidades existentes de burlá-la.
Mulheres com câncer e oncofertilidade
Nessas circunstâncias, surge a oncofertilidade, que aproxima a medicina reprodutiva da oncologia ao oferecer aos indivíduos com câncer a chance da procriação futura, quando estiverem livres da doença. No caso das mulheres, o congelamento dos óvulos antes da quimio ou radioterapia é a técnica de preservação reprodutiva de escolha. E, hoje, as chances de gravidez por meio da fertilização in vitro desses óvulos congelados são muito próximas às chances com óvulos frescos.
Infelizmente, a preservação da fertilidade não será possível para todas as mulheres com tumores malignos, às vezes, por causa da necessidade de início imediato do tratamento, às vezes por particularidades outras, inerentes à doença ou às condições de saúde da paciente. É preciso que cada mulher seja avaliada individualmente e de forma cautelosa por ambas as equipes multidisciplinares, a oncológica e a reprodutiva. Dessa avaliação virão as informações adequadas e o devido consentimento esclarecido para se prosseguir com a estratégia de preservação ou não.
Com a intenção de orientar tanto médicos quanto a população geral, fundou-se há cerca de uma década o “Oncofertility Consortium” , hoje espalhado por 17 países, dentre os quais o Brasil . Por essa iniciativa, espera-se alavancar uma mudança de cultura médica e abrir os olhos do mundo para a possibilidade da procriação como fator de qualidade da sobrevida ao câncer. Por ora, aproveito o Outubro Rosa para falar do assunto. Há melhor momento para isso?
Dr. Bruno Ramalho
O Dr. Bruno Ramalho atua há dez anos no tratamento dos distúrbios da fertilidade. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia e, depois, em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP – USP). Também na FMRP – USP, especializou-se em Reprodução Humana, além de ter se tornado Mestre em Ciências Médicas. Possui Título de Capacitação em Reprodução Assistida pela ASBRA – Associação Brasileira de Reprodução Assistida. Hoje, concentra seus estudos no tratamento da infertilidade e na preservação da fertilidade de pacientes oncológicas (oncofertilidade).
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