O desaparecimento de pessoas é um tema de certa forma pouco discutido e pouco investigado no Brasil. Em muitos casos, a justificativa de envolvimento do desaparecido com o crime, drogas, ou outros, é desculpa para o desaparecimento. Como se quem usa drogas ou se envolve com o crime tivesse menos valor e pudesse ser exterminado ou sumir sem deixar rastros. Creio que nada justifica.
A dor das famílias que têm alguém desaparecido é imensa. Uma situação que fica inacabada. Uma angústia. Incerteza. Difícil fechar algo que não se sabe o que aconteceu. Li recentemente o relato da mãe de um lutador famoso que teve a filha desaparecida há uns 10 anos. A angústia e o sofrimento e a dificuldade de um fim. Quem sabe divulgar não ajuda a mobilizar, um dia quem sabe, alguma força que possa promover alguma mudança nessa triste situação que permanece sem final.
Relato de mãe:
No dia 9 de janeiro de 2004, minha filha Priscila foi trabalhar. Colegas a viram entrando no escritório e, mais tarde, saindo para o almoço. Depois disso, Priscila desapareceu. Na mesma noite, meu outro filho, Vitor, foi dar queixa na 14ª DP. Eu, familiares e amigos não aguentamos e saímos pela cidade em busca dela. Voltamos para casa de manhã sem nenhuma informação.
O caso chegou na mídia e eu recebi dois pedidos de resgate, ambos falsos. Minha vida se transformou em peregrinações diárias à Polícia e, em uma delas, soube que havia indícios de que minha filha havia sido assassinada pelo traficante Gerinho, do Morro da Providência. O bandido acabou morrendo e a polícia foi interrogar Sapinho que, à época, era o “dono” do morro. Fiquei desesperada, mas ele negou envolvimento no suposto assassinato da Priscila.
Tempos depois, encontraram três meninas parecidas com ela. Mais um alarme falso: nenhuma era minha filha. Embora tenha sofrido com mais essa decepção, meu coração ficou um pouco menos apertado ao saber que três mulheres haviam conseguido voltar para suas famílias.
A pior coisa para parentes de um desaparecido é que qualquer história que inventarem pra você pode se encaixar na situação. Tem dias que acordo achando que a Priscila está morta. Em outros, tenho a esperança de que o telefone vai tocar com minha filha do outro lado da linha.
Casos como o da minha família atingem muita gente e isso, infelizmente, não tem atenção especial do Governo. Ao contrário de outras capitais, o Rio não possui uma delegacia exclusiva para investigar o desaparecimento de pessoas.
Agora, com o caso do pedreiro Amarildo, a questão dos desaparecidos voltou à tona. A sociedade precisa aproveitar o momento para cobrar a criação da delegacia especializada em investigar desaparecidos! Não podemos mais postergar essa história! Esse é um passo fundamental para dar a essas famílias a atenção e o cuidado que elas merecem.
Jovita Vieira Belfort, mãe de Priscila Belfor