Você acorda feliz e disposto. Chega ao trabalho e, diante de um pequeno estresse, seu astral muda completamente no restante do dia. Parece familiar? A alteração de humor é comum, especialmente diante do turbilhão de acontecimentos da rotina. Mas talvez isso não tenha a ver apenas com o psicológico. Pelo menos é o que sugerem novas pesquisas.
Há 110 anos, o psiquiatra americano Henry Cotton já estudava a possibilidade de que vírus e bactérias estariam ligados a mudanças no humor e outros transtornos mentais. Na época, porém, sua teoria não foi bem aceita pela comunidade científica. Agora ela é revista.
Entenda a relação entre vírus e alteração de humor
A abordagem de que viroses, a exemplo da sífilis, ultrapassam a barreira do cérebro, atingem o sistema nervoso e levam a problemas mentais pode fazer sentido. Há casos bem pontuais em que esse padrão foi observado: o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o escritor francês Guy de Maupassant são alguns exemplos.
Mas será que essa relação entre vírus e saúde mental poderia ocorrer também em casos menos extremos, como pequenas alterações diárias de humor? Para Thomas Blank, pesquisador da Universidade de Freiburg, da Alemanha, a resposta é sim. Ele acabou de publicar um artigo no periódico Immunity sustentando essa associação.
A partir de sua pesquisa, o cientista detectou que a forma como o organismo humano reage a uma infecção pode alterar a atividade cerebral. Para chegar a essa conclusão, ele infectou ratos com o vírus da estomatite vesicular que, em humanos, provoca sintomas semelhantes aos da gripe.
Depois, conduziu testes para checar o comportamento depressivo dos animais. A experimentação consistia em forçar os roedores a nadarem. O resultado? Aqueles que foram contaminados ficaram imóveis. Para os ratos, isso é um sinal de desespero. Já os não infectados se comportaram normalmente.
De acordo com o pesquisador, um indicativo de que os sistemas imunológico e nervoso estão diretamente relacionados. Blank estuda ainda a relação de uma proteína chamada CXCL10 com o quadro.
Ele explica que, quando um agente externo provoca uma infecção no corpo, as células cerebrais que revestem os vasos sanguíneos produzem essa substância, capaz de danificar a funcionalidade dos neurônios na região do cérebro responsável pelo humor, aprendizado e memória.
Tal mecanismo tem a função de proteger o órgão contra a ação dos micro-organismos infecciosos, mas não sem induzir algumas mudanças de comportamento. Foi o que o pesquisador observou nos ratos: no grupo de animais que ficou paralisado, foi detectada a presença da proteína CXCL10.
Transtorno de humor x infecção
Outra evidência de que alterações de humor podem estar ligadas a infecções veio da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. Lá que foi conduzido o maior estudo sobre essa associação feito até hoje.
O pesquisador Michael Eriksen Benrós e sua equipe analisaram dados de saúde de mais de três milhões de dinamarqueses nascidos entre 1945 e 1996. Foi observado que, entre 1997 e 2010, mais de 91 mil pessoas estiveram em um hospital para o tratamento de algum distúrbio de humor.
Dentre elas, 32% já haviam ido ao hospital anteriormente por conta de uma doença infecciosa e 5% devido a patologias autoimunes. Matematicamente, uma em cada três pessoas com diagnóstico de transtorno de humor teve alguma infecção prévia ao problema.
Os pesquisadores concluíram que o risco do desenvolvimento de um distúrbio de saúde mental aumenta em 62% quando alguém já teve uma infecção séria. Mas isso não significa que todo e qualquer transtorno de saúde mental tenha, necessariamente, uma relação direta com infecções. Por isso, é sempre importante consultar um médico diante de qualquer dificuldade física ou emocional.
E aí, o que você acha da ligação entre a alteração de humor e as infecções? Deixe a sua opinião nos comentários.