Descobertas recentes nas relações raciais americanas aparentemente não refletem um cenário favorável: o racismo tem sido associado à depressão, cujos diagnósticos vêm aumentando consideravelmente nos últimos anos, à posse de armas e oposição ao seu controle. Mas, um novo estudo sobre padrões de namoros on-line vai contra essas tendências, o que sugere que as barreiras raciais diminuem um pouco quando se trata de romance via Internet.
As melhorias não são totalmente abrangentes. As pessoas apresentam os mesmos preconceitos em grupos on-line que possuem na vida real quando se trata de se “oferecer” a um estranho de uma raça diferente on-line. Mas se o estranho se oferecer a você, o estudo sugere que você está mais propenso a respondera ele e, além disso, entrar em contato preferencialmente com pessoas de outras raças mais tarde.
Publicado na Proceedings of the National Academy of, o estudo selecionou padrões de interação de 126.134 usuários do site de namoro on-line OkCupid. O sociólogo da Universidade da Califórnia em São Diego, Kevin Lewis, examinou apenas as primeiras mensagens enviadas e suas respostas. Todas as mensagens tiveram o seu conteúdo ocultado, deixando apenas as informações do remetente e destinatário e a data e hora de cada mensagem. A equipe utilizou apenas casais heterossexuais – para corresponder com a metodologia da pesquisa passada, para efeito de comparação – e cinco das etnias mais populosas do site: Negros, Brancos, Asiáticos (Leste Asiático), Hispânicos/Latinos, e Indianos (Sul Asiáticos).
Desde 1967, a decisão da Suprema Corte em Loving v. Virginia, que legalizou o casamento inter-racial, a prática de buscar um parceiro por toda a vida, fora da sua própria raça, vem aumentando em prevalência a cada década que se seguiu. De acordo com o censo dos EUA de 1970, casais inter-raciais casados compõem 0,7 por cento do número total de casais. Em 2008, a taxa subiu para 3,9 por cento.
Esses números são promissores, mas eles ainda refletem a tendência esmagadora dos americanos de se casarem com parceiros da mesma raça. O presente estudo corrobora essa preferência, mesmo que apenas de maneira passiva.
“Com base em uma vida inteira de experiências em uma sociedade racista e racialmente segregada, as pessoas antecipam a discriminação por parte de um potencial parceiro e estão em grande parte sem vontade de chegar em primeiro lugar”, disse Lewis. “Mas se uma pessoa de outra raça expressa interesse nelas primeiro, suas suposições são anuladas e elas estão mais dispostas a ter uma chance com pessoas dessa raça no futuro.”
Lewis chamou essa antecipação de “discriminação preventiva.” É uma tendência das pessoas a assumirem um potencial pretendente, que poderia discriminá-las, então elas evitam entrar em contato com o pretendente completamente. Mas evitar essa interação cumpre a profecia de que pessoas de diferentes raças não entram em contato umas com as outras.
Como é possível constatar, a quebra de barreiras raciais é rapidamente corrigida. Em aproximadamente uma semana, as pessoas tendem a voltar a seus eus discriminatórios.
“O recém-descoberto otimismo é rapidamente esmagado pelo status quo, pelo estado normal das coisas”, explicou Lewis. “O preconceito racial no acasalamento seletivo é um fenômeno social forte e onipresente, e que é difícil de superar, mesmo com pequenos passos na direção correta. Nós ainda temos um longo caminho pela frente.”
O namoro on-line funciona como um substituto útil para vasculhar os envolvimentos no acasalamento seletivo. As tentativas de compreender a forma como as pessoas se envolvem com membros da mesma etnia, muitas vezes caem na armadilha de atribuir preconceito onde, na realidade, podem ser simplesmente restrições geográficas na forma como as pessoas se encontram. As pessoas em áreas mais remotas, especialmente aquelas densamente povoadas com os membros da mesma raça, necessariamente, têm mais dificuldade em interagir com outras raças. Com o tempo, esses padrões de envolvimento em grupo se concretizam, e o namoro fora dos círculos étnicos parece estranho.
Estudos sobre namoro on-line ajudam a adentrar essas barreiras culturais, já que a exposição à diversidade está, literalmente, na ponta dos dedos de alguém.
“Barreiras raciais são mais frágeis do que pensamos”, Lewis concluiu com otimismo, embora maios ou menos hesitante. Ele acrescentou que as pessoas que respondem a propostas de outras raças, mas que de outra forma não estão preparadas para isso, preparam o caminho para a mistura intercultural. As “consequências desta ação são auto-reforçantes”, disse ele, “e podem potencialmente desencadear contatos inter-racial futuros entre outras pessoas”.