O aborto no Brasil é um tema muito discutido ultimamente, sobretudo pelas propostas de mudança na legislação. Apesar de gerar diferentes opiniões, ainda existem muitos mitos sobre o tema pois pouco se sabe dessa prática na realidade. Segundo a lei atual, provocar aborto no Brasil pode gerar uma pena de um a três anos de prisão. Em todo o mundo, 56 países possuem leis que permitem o aborto, representando 40% da população mundia. Estima-se que ocorrem mais de 1 milhão de abortos por ano no país. Para as mulheres que fizeram um aborto no Brasil, as coisas são mais complicadas pois não há o auxílio da lei na regulamentação da prática.
2 casos reais de aborto no Brasil
Com a proibição por lei, as mulheres que querem fazer um aborto no brasil precisam recorrer à métodos alternativos ou mesmo clandestinos, o que ocorre na maioria dos casos e leva muitas mulheres à morte no país. A importância dos depoimentos é desmistificar o aborto no Brasil e infromar. As identidades das mulheres serão preservadas usando nomes fictícios.
Julia, 28 anos.
“Engravidei do meu namorado aos 19 anos por uma “falha nossa”. A camisinha estourou e não nos demos conta. Logo começou a preocupação até que ficou confirmado o atraso da menstruação. Fiz logo um exame de sangue porque queria estar 100% segura e o resultado me assustou. Eu estava grávida aos 19 anos. Tantas histórias que eu conhecia de meninas novas que haviam tido filhos! Eu não queria aquilo. Meu namorado queria que tivéssemos o bebê, mas minha mãe foi catedrática dizendo que eu tirasse. Apesar de não querer ter a criança, a dúvida ficou comigo por algumas semanas, até que as mudanças no meu corpo me fizeram tomar consciência da situação e então, pressionada e com medo, decidir pelo aborto. Uma amiga me indicou uma clínica. Fui fazer uma visita, marquei exames para o dia seguinte e na noite seguinte já poderíamos fazer o procedimento. Meu namorado não queria o aborto, não apoiou e deixamos de nos falar nesse período. Cheguei na clínica na hora marcada. Haviam mais algumas meninas que, como eu, esperavam para ser chamadas. Como não tínhamos outro assunto, descobri um pouco sobre elas. Uma menina abortaria pela quarta vez. Outra havia traído o noivo e engravidou. Quando fui chamada, entrei na sala, e me instalei. Tomei anestesia e apaguei. Não sabia quanto tempo tinha passado, mas quando acordei, me avisaram que poderia ir embora e que era normal ter sangramento na primeira semana. Cheguei em casa e quis tomar um banho para me sentir limpa. Chorei muito porque me arrependi. O sangramento durou quase um mês. Nesse período, fiz uma consulta com meu ginecologista e ele percebeu que ainda haviam restos dentro de mim. Fizemos o procedimento de curetagem. Foi muito doloroso. Minha vida ficou marcada por essa situação. Muitas vezes tive dores uterinas que eram de origem psicológica, resultado do meu trauma. Hoje sou casada mas ainda não penso em ter filhos. Sempre imagino como teria sido ter aquela criança. Decidi consultar uma psicóloga para poder me preparar para formar uma família com meu esposo.”
Mariana, 26 anos.
“Minha gravidez foi inesperada e indesejada, pois o pai não queria se responsabilizar. Descobri após um dia de febre intensa. Pensei que fosse uma virose, mas após perceber que minha menstruação estava atrasada, fiz um teste de farmácia e descobri a gravidez. Foi então que começou um sentimento enorme de preocupação e decidi abortar. Só quem toma essa decisão sabe o que leva a isso. Particularmente, nunca tive o sonho de ser mãe e uma gravidez para mim era o mesmo que ter uma doença: indesejado, incomodo e me fazia mal. Após o exame da farmácia, resolvi confirmar fazendo o exame de sangue para finalmente dar início ao aborto de maneira mais certa. Fui à um laboratório e não tive problemas para fazer um exame BETA por conta própria. Resultado positivo e muita preocupação. Eu não queria ter um filho nem sozinha nem com homem nenhum. Eu precisava abortar. Contei a situação para minha mãe, que conversando com amigos do trabalho ouviu falar sobre alguns medicamentos abortivos. Eu me informei sobre eles e decidi comprá-los. Um amigo do trabalho da minha mãe que conseguiu as pílulas. Tomei 2 medicamentos e esperei a reação do corpo. Em 2 horas já comecei a ter febre alta e cólicas seguidas de um grande sangramento. Pensei que tudo estava certo e fui dormir. Logo me dei conta de que o sangramento sozinho não significa o sucesso do aborto. Mas finalmente tive outro sangramento pela manhã, quando saiu uma grande bola de sangue. Contudo, para confirmar o aborto, decidi esperar alguns dias e fazer uma ultra-som endovaginal. Havia lido na internet que esse era o único modo de confirmar se o saco gestacional havia sido expelido e se o feto estava morto. O resultado foi positivo, o aborto havia sido feito mas ainda há restos dentro de mim. O médico me indicou fazer uma consulta pra que ele fizesse a curetagem desses restos ou que tentássemos expeli-los com outros medicamentos. Me sinto aliviada e feliz por tudo ter dado certo de maneira segura.”
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