As consequências da transmissão do vírus zika pelo aedes aegypti em mães grávidas e seus bebês são motivo de preocupação para a comunidade científica. Uma pesquisa divulgada em fevereiro pela médica Adriana Melo, do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, de Campina Grande (PB), levanta a hipótese de que a doença pode causar atrofia cerebral mascarada em fetos.
A médica paraibana desconfia que os danos do zika vírus em bebês vão muito além da microcefalia. Isso porque, em uma semana, três recém-nascidos acompanhados por ela morreram ao nascerem com o cérebro atrofiado. Mas apenas um deles apresentava o tamanho da cabeça menor que 32 cm. Nos outros dois, as medidas eram normais.
Zika e a atrofia cerebral: entenda a ligação
O que Adriana sugere é que a presença do zika em determinados bebês pode estar sendo mascarada pelo tamanho do cérebro. Nos casos observados, ela verificou que durante o desenvolvimento dos fetos as medidas do crânio eram normais. Mas, na verdade, isso ocorreu porque ele estava preenchido com líquido em excesso.
Tal condição disfarça a microcefalia, uma vez que o cérebro não aparenta estar atrofiado, por conta do líquido. A médica e outros pesquisadores parceiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acreditam que os danos causados pelo zika representam uma síndrome congênita, que pode alterar o tecido cerebral de diferentes maneiras, além de outros órgãos.
Para chegar a essas conclusões, a médica e os cientistas da UFRJ coletaram amostras de líquido aminótico de grávidas afetadas pelo zika. Até agora, eles já conseguiram isolar o genoma do vírus, para tentar identificar suas possíveis mutações e verificar a forma como ele agride o tecido cerebral.
Até então, porém, a análise parece ter trazido mais perguntas do que respostas. Mas as observações dos pesquisadores os levam a crer que, de fato, os males do zika vão além da microcefalia: a presença do vírus viria a causar alterações no cerebelo, na dilatação dos ventrículos cerebrais e nas calcificações do feto.
Em casos mais graves, conforme acreditam os cientistas, a presença do zika poderia até afetar outros órgãos do bebê. A atrofia no cérebro também seria responsável por problemas como incapacidade motora e má-formação dos músculos. Tudo isso independente do recém-nascido apresentar ou não microcefalia.
Se as hipóteses forem constatadas cientificamente, novas relações – até então desconhecidas – de outros casos de natimortos e crianças nascidas com deficiências com o zika poderiam ser estabelecidas.
A médica sugere que é importante alertar as mães que pensam que o vírus só causa microcefalia. Isso porque, eventualmente, o bebê pode apresentar o crânio com tamanho normal, mas ainda assim ter atrofia cerebral.
Casos de microcefalia no Brasil
O primeiro alerta em relação à ameça do vírus zika para gestantes surgiu em decorrência do surto de bebês nascidos com microcefalia, especialmente na região Nordeste do país. A condição se caracteriza, de acordo com Ministério da Saúde (MS), pelo tamanho inferior a 32 cm de perímetro cefálico na criança.
Segundo as informações do boletim divulgado pelo MS, a Paraíba teve 54 casos confirmados de bebês nascidos com microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central. Mas apenas dois deles tiveram relação 100% confirmada com o vírus da zika.
O fato é que, tanto a microcefalia quanto outras más-formações em bebês, ainda estão tendo sua relação com o vírus zika investigada. Nada é confirmado. Pesquisadores argentinos, inclusive, chegaram a apontar que os problemas em recém-nascidos estariam ligados ao uso de um inseticida – e não diretamente ao vírus.
De acordo com o MS, 427 casos de bebês nascidos com microcefalia estão sendo investigados e 275 já tiveram sua relação com o zika descartada. E você, o que pensa sobre a polêmica? Deixe um comentário e não esqueça de compartilhar experiências e tirar suas dúvidas no Fórum de Discussão Doutíssima! Clique aqui para se cadastrar!