Muitas pessoas convivem com o ronco por muito tempo e acreditam que o hábito é uma característica pessoal e não prejudica a saúde. Por isso, acabam não se preocupando a ponto de procurar um médico. Mas, muito mais do que um incômodo sonoro, o problema pode estar associado a problemas sérios de saúde.
De onde vem o ronco
O ronco é um barulho causado pela vibração das estruturas da garganta. Quando existe um estreitamento da passagem do ar, isso leva a uma vibração das estruturas moles, com a geração do barulho do ronco.
Segundo o Dr. Jamal Azzam, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, o problema está relacionado diretamente ao estreitamento das vias aéreas superiores – o que pode estar ligado a fatores como o aumento das amígdalas, aumento das adenóides (famosa “carne esponjosa do nariz”), alargamento e/ou alongamento da úvula (conhecida como “campainha da garganta”), aumento da base da língua, desvios do septo nasal ou aumento das conchas nasais, entre outros.
Dr. Jamal explica ainda que algumas alterações do esqueleto facial também predispõem ao ronco, ainda mais em pessoas “micrognatas”, que geralmente têm o queixo para trás. “Além disso, o ronco é impulsionado por alterações neuromusculares nas quais existe uma contração muscular milissegundos antes da inspiração, levando ao estreitamento da via respiratória”.
Outras causas são o aumento do peso, que pode levar à expansão dos tecidos atrás da garganta e ao consequente estreitamento local. Situações ocasionais também podem provocar o ronco, como ingestão de álcool algumas horas antes de dormir: isso pode levar a um excesso de relaxamento e maior vibração das estruturas da garganta.
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Roncar é normal?
Dr. Jamal explica que o ronco só é normal se for eventual. Quando acontece todos os dias, ou na grande maioria dos dias, não pode ser considerado normal. “O ronco repetido não é normal em nenhuma faixa etária, desde bebês até idosos. Muitas vezes a pessoa ronca há tanto tempo que acha que não há problema algum, mas ressalto: ronco constante, todos os dias, deve ser tratado”, afirma o médico.
O prejuízo do ronco vai muito além do possível desconforto social que ele pode causar. Mais de 90% das pessoas que roncam também têm a apneia do sono, doença em que ocorrem paradas respiratórias com mais de 10 segundos, com sérias consequências a curto e longo prazo.
A curto prazo, as paradas respiratórias levam a uma diminuição da oxigenação do sangue e dos tecidos, especialmente do cérebro. Isso acaba levando a pessoa a acordar muito cansada – geralmente mais cansada do que quando foi dormir -, além de ter sonolência intensa de dia, diminuição da concentração, dores de cabeça e falta de ânimo. A sonolência excessiva pode levar a situações perigosas, como dormir ao volante.
A longo prazo, a diminuição do oxigênio sobrecarrega o sistema nervoso, que aumenta o ritmo dos batimentos cardíacos e estimula a contração dos vasos sanguíneos. Com o tempo, aumenta-se o risco de desenvolver pressão alta e arritmia cardíaca.
O ronco tem solução?
O ronco pode ter solução definitiva se a causa exata for tratada e eliminada. Por exemplo, se ele estiver ligado ao aumento das amígdalas, a cirurgia para a sua retirada pode resolver a questão.
O mais importante é que a pessoa passe por uma análise médica minuciosa para ter um diagnóstico. O relato de acompanhantes, se houver, também ajuda muito. “O exame clínico otorrinolaringológico contribui de forma decisiva para o diagnóstico e pode envolver um exame chamado de polissonografia basal”, explica o Dr. Jamal. “Vale ressaltar que o ideal é que esta polissonografia seja feita em um laboratório do sono. Ali, a avaliação é muito mais precisa e confiável”, completa.
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Se o especialista concluir que ronco está associado à apneia leve, pode indicar o tratamento com dilatadores de narinas, que facilitam a passagem do ar, ou com aparelhos ortodônticos feitos sob medida para projetar a mandíbula para a frente ou abaixar a língua.
Se a apneia for mais grave, a solução geralmente envolve um mecanismo chamado CPAP (sigla em inglês para pressão positiva contínua nas vias aéreas), máscara que envolve o nariz e a boca e lança o ar diretamente para as vias respiratórias.
Dependendo do caso, cirurgias para corrigir a arquitetura da face ou das amígdalas também podem ser indicadas.
Dicas básicas para evitar o ronco
Encontre uma boa posição para dormir – e o travesseiro correto. A causa do ronco pode ser tão simples quanto um travesseiro ruim ou uma posição errada. Pesquisas indicam que alguns travesseiros podem facilitar ou dificultar a passagem de ar ao afetar a postura em que a pessoa está dormindo. Escolha um travesseiro que lhe permita manter o corpo e o pescoço alinhados e procure dormir de lado. Deitar de barriga para cima pode obstruir as vias aéreas, já que a língua e o palato mole são empurrados contra a garganta. Fique atenta!
Mantenha o peso ideal – A obesidade está entre as principais causas do ronco e da apneia do sono, pois leva ao acúmulo de gordura em volta da traqueia, dificultando a passagem do ar. Para complicar, a gordura que se forma no abdômen e no tórax limita a expansão da caixa torácica. Tudo isso exige maior esforço para a respiração, levando ao ronco.
Evite cigarro e bebidas alcoólicas – Esses hábitos podem agravar – e muito – o problema do ronco e da apneia, pois interferem no ciclo do sono e no relaxamento da musculatura da garganta.