Muitas pessoas convivem com o ronco por muito tempo e acreditam que o hábito é uma característica pessoal e não prejudica a saúde. Por isso, acabam não se preocupando a ponto de procurar um médico. Mas, muito mais do que um incômodo sonoro, o problema pode estar associado a problemas sérios de saúde.
De onde vem o ronco
O ronco é um barulho causado pela vibração das estruturas da garganta. Quando existe um estreitamento da passagem do ar, isso leva a uma vibração das estruturas moles, com a geração do barulho do ronco.
Segundo o Dr. Jamal Azzam, otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, o problema está relacionado diretamente ao estreitamento das vias aéreas superiores – o que pode estar ligado a fatores como o aumento das amígdalas, aumento das adenóides (famosa “carne esponjosa do nariz”), alargamento e/ou alongamento da úvula (conhecida como “campainha da garganta”), aumento da base da língua, desvios do septo nasal ou aumento das conchas nasais, entre outros.
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Quando acontece todos os dias, ou quase todos os dias, o ronco não pode ser considerado normal. Foto: iStock
Dr. Jamal explica ainda que algumas alterações do esqueleto facial também predispõem ao ronco, ainda mais em pessoas “micrognatas”, que geralmente têm o queixo para trás. “Além disso, o ronco é impulsionado por alterações neuromusculares nas quais existe uma contração muscular milissegundos antes da inspiração, levando ao estreitamento da via respiratória”.
Outras causas são o aumento do peso, que pode levar à expansão dos tecidos atrás da garganta e ao consequente estreitamento local. Situações ocasionais também podem provocar o ronco, como ingestão de álcool algumas horas antes de dormir: isso pode levar a um excesso de relaxamento e maior vibração das estruturas da garganta.
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Roncar é normal?
Dr. Jamal explica que o ronco só é normal se for eventual. Quando acontece todos os dias, ou na grande maioria dos dias, não pode ser considerado normal. “O ronco repetido não é normal em nenhuma faixa etária, desde bebês até idosos. Muitas vezes a pessoa ronca há tanto tempo que acha que não há problema algum, mas ressalto: ronco constante, todos os dias, deve ser tratado”, afirma o médico.
O prejuízo do ronco vai muito além do possível desconforto social que ele pode causar. Mais de 90% das pessoas que roncam também têm a apneia do sono, doença em que ocorrem paradas respiratórias com mais de 10 segundos, com sérias consequências a curto e longo prazo.
A curto prazo, as paradas respiratórias levam a uma diminuição da oxigenação do sangue e dos tecidos, especialmente do cérebro. Isso acaba levando a pessoa a acordar muito cansada – geralmente mais cansada do que quando foi dormir -, além de ter sonolência intensa de dia, diminuição da concentração, dores de cabeça e falta de ânimo. A sonolência excessiva pode levar a situações perigosas, como dormir ao volante.
A longo prazo, a diminuição do oxigênio sobrecarrega o sistema nervoso, que aumenta o ritmo dos batimentos cardíacos e estimula a contração dos vasos sanguíneos. Com o tempo, aumenta-se o risco de desenvolver pressão alta e arritmia cardíaca.
O ronco tem solução?
O ronco pode ter solução definitiva se a causa exata for tratada e eliminada. Por exemplo, se ele estiver ligado ao aumento das amígdalas, a cirurgia para a sua retirada pode resolver a questão.
O mais importante é que a pessoa passe por uma análise médica minuciosa para ter um diagnóstico. O relato de acompanhantes, se houver, também ajuda muito. “O exame clínico otorrinolaringológico contribui de forma decisiva para o diagnóstico e pode envolver um exame chamado de polissonografia basal”, explica o Dr. Jamal. “Vale ressaltar que o ideal é que esta polissonografia seja feita em um laboratório do sono. Ali, a avaliação é muito mais precisa e confiável”, completa.
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Se o especialista concluir que ronco está associado à apneia leve, pode indicar o tratamento com dilatadores de narinas, que facilitam a passagem do ar, ou com aparelhos ortodônticos feitos sob medida para projetar a mandíbula para a frente ou abaixar a língua.
Se a apneia for mais grave, a solução geralmente envolve um mecanismo chamado CPAP (sigla em inglês para pressão positiva contínua nas vias aéreas), máscara que envolve o nariz e a boca e lança o ar diretamente para as vias respiratórias.
Dependendo do caso, cirurgias para corrigir a arquitetura da face ou das amígdalas também podem ser indicadas.
Dicas básicas para evitar o ronco
Encontre uma boa posição para dormir – e o travesseiro correto. A causa do ronco pode ser tão simples quanto um travesseiro ruim ou uma posição errada. Pesquisas indicam que alguns travesseiros podem facilitar ou dificultar a passagem de ar ao afetar a postura em que a pessoa está dormindo. Escolha um travesseiro que lhe permita manter o corpo e o pescoço alinhados e procure dormir de lado. Deitar de barriga para cima pode obstruir as vias aéreas, já que a língua e o palato mole são empurrados contra a garganta. Fique atenta!
Mantenha o peso ideal – A obesidade está entre as principais causas do ronco e da apneia do sono, pois leva ao acúmulo de gordura em volta da traqueia, dificultando a passagem do ar. Para complicar, a gordura que se forma no abdômen e no tórax limita a expansão da caixa torácica. Tudo isso exige maior esforço para a respiração, levando ao ronco.
Evite cigarro e bebidas alcoólicas – Esses hábitos podem agravar – e muito – o problema do ronco e da apneia, pois interferem no ciclo do sono e no relaxamento da musculatura da garganta.