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Cremes anti-idade realmente funcionam no rosto? Descubra!

Por Francine Costanti 01/09/2020

Hoje em dia há inúmeras opções de cremes anti-idade que prometem suavizar as linhas de expressão e rugas da pele do rosto. As prateleiras de farmácias e perfumarias estão repletas de produtos e, por isso, muitas vezes não sabemos qual deles escolher. O primeiro passo, antes de aplicar qualquer dermocosmético no rosto, é marcar uma consulta com um dermatologista que poderá analisar o seu tipo de pele para só depois indicar um creme anti-idade ideal. Mas será que eles realmente funcionam?

Conversamos com a Dra. Claudia Marçal, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD) e com o Dr. Marcelo Sady, pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, para saber como os cremes anti-idade agem na pele do rosto.

Envelhecimento da pele do rosto

Diariamente, somos expostos a diversos agressores ambientais e sete deles têm intensa relação com as manchas, rugas e flacidez de maneira precoce na pele. Eles foram chamados de Seven Skin Ages, ou seja, sete marcadores do processo de envelhecimento biológico e molecular que levam à desnaturação celular e aceleram o envelhecimento cronológico. 

Conhecer esses sete agressores (que em inglês tem a letra inicial ‘S’) é uma forma de retardar o processo, adquirindo hábitos mais saudáveis para a saúde e beleza da pele. Eles têm relação importante com a qualidade de vida e alimentação, com o cigarro, o estresse, além da necessidade da proteção solar e o cuidado na manutenção de uma rotina adequada de manhã e à noite para manter a pele jovial. Sun (sol), sugar (açúcar), stress (estresse), sleep (sono), skincare (cuidados com a pele), smoking (cigarro) e second (o tempo cronológico): são esses os sete marcadores do envelhecimento cutâneo.

Veja a seguir cada um desses “seven skin ages” descritos pela Dra. Claudia Marçal:

SUN — A exposição solar sem a questão de fotoproteção é o mais importante agressor, que leva a um dano cumulativo, inclusive com a formação de dímeros de pirimidina, com mudança nas bases do DNA que provocam reações de mutação celular, com consequente fotoenvelhecimento precoce, inflamação relacionado ao melasma e cancerização. O filtro deve ter proteção eficiente contra as radiações UVA e UVB, mas também deve proteger da luz visível e da Infrared — hoje é uma unanimidade mundial a necessidade do amplo espectro do filtro solar. A exposição solar está ligada à inflamação, ao dano oxidativo e à produção de enzimas que degradam colágeno, resultando em uma pele mais flácida, com rugas e manchas.

SUGAR — A ingestão de açúcar em demasia na dieta colabora para um processo de glicação, que é quando nossas fibras de colágeno e elastina endurecem por reagirem com esses açúcares. Com isso, elas perdem a questão da maleabilidade, da flexibilidade, da sustentação e ancoragem da pele. O açúcar também está ligado, segundo estudos, ao aparecimento de manchas. O acúmulo de AGEs (espécies avançadas de glicação) provocam ainda a perda da volumetria natural, que é o contorno e a sustentação além do tônus, e com isso inicia-se uma mudança da boa morfologia e da anatomia primária da pele jovem. Isso ocorre porque os AGES derivados de espécies avançadas reativas de glicação geram ação inflamatória e envelhecimento precoce de todo o sistema. Para reverter esse quadro, é necessária a aplicação tópica e o uso via oral de produtos com ação antiglicante e deglicante.

STRESS — O estresse também afeta nossa pele de maneira importante. Uma pele que vive sobre descargas constantes de adrenalina e outros hormônios como cortisol e prolactina, pelo desequilíbrio em cascata, potencializam o estado inflamatório persistente no tecido cutâneo e fazem com que nossas células tenham um tempo de vida e atividade diminuídas, acarretando perda da longevidade. A erupção acneiforme ou a acne propriamente dita são manifestações comuns ocasionados pelo estresse e seus fatores associados, que além disso provocam a aceleração do envelhecimento biológico.

Manchas na pele

Tomar sol sem proteção solar adequada acelera o envelhecimento da pele do rosto. Foto: iStock

SLEEP — A falta de sono diminui todo o metabolismo do ciclo circadiano, sono e vigília, o que compromete o tempo necessário para que ocorra o reparo e regeneração durante o período noturno quando o metabolismo está na sua atividade basal. Então isso afeta a produção natural de melatonina que conjuntamente com Glutationa, Superóxido Dismutase e Catalase fazem parte da defesa anti radical primária do nosso organismo. 

Ocorre também alteração na produção do hormônio de crescimento IGF 1 que regula a insulina (evitando com que altos índices de níveis glicêmicos envelheçam nosso tecido e provocam inflamação). Na questão do sleep, a forma como dormimos também influencia: O fato de dormir com o rosto virado 100% para o travesseiro, ou sempre de um dos lados, vai formando rugas de dinâmica importantes, e que muitas vezes nos faz envelhecer mais assimetricamente com demarcações mais profundas dos sulcos, das linhas e das rugas.

SKINCARE — Ter uma rotina de cuidados diários é muito importante para a beleza e saúde da pele. Os passos de limpeza, com higienização complementar com tônicos ou águas micelares, assim como hidratação e fotoproteção são essenciais para manter a pele cuidada e atemporal. Fazer uso de substâncias como alfa, beta e poli-hidroxiácidos assim como retinóides e vitamina C e E associados a peptídeos e fatores de crescimento, além da necessária fotoproteção de amplo espectro com blend de antioxidantes, antiglicantes e deglicantes. Essas devem ser armas de prescrição feitas de forma específica para cada paciente pelo seu dermatologista.

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SMOKING — O consumo de cada cigarro induz ao envelhecimento, pois está associado à vasoconstrição periférica por um período de dez minutos, o que diminui o fluxo sanguíneo para o tecido cutâneo e cabelos. Isso traz consequências na perda da viçosidade e luminosidade; favorece o processo de discromia cutânea com o amarelamento do tecido; e influencia, também, na falta de ancoragem e firmeza por conta da oxigenação e nutrição diminuídas.

SECOND — O último ‘S’ é o second, que é dizer que a cada segundo nós envelhecemos. A todo momento nós estamos fazendo um processo de desnaturação das nossas células por conta de todos os marcadores citados acima. Uma pesquisa recente de Harvard pontuou que na faixa dos 20 anos, fisiologicamente, temos o primeiro processo de envelhecimento, com o declínio da produção natural de antioxidantes; aos 30, o metabolismo do corpo começa a abrandar e isso afeta a bioenergia das células da pele.

Já aos 40 anos, a senescência celular entra em ação em um processo em que o ciclo de vida natural das células da pele é menor, e isso pode afetar sua aparência de muitas maneiras. Todo esse processo natural tem a ver com a questão do encurtamento dos telômeros e a expressão do p53 e de outros marcadores importantes que nós temos; então, independente de qualquer coisa, existe o processo natural de envelhecimento cronológico, demarcado como second. 

Além das substâncias antienvelhecimento em cremes, as fórmulas orais podem ajudar. Vitaminas orais, Exsynutriment (silício biodisponível), Bio-Arct (bioenergizante mitocondrial), FC Oral (modular inflamatório), Glycoxil (antiglicante), além de antioxidantes, minerais e oligoelementos são indicados.

“O sol é responsável por cerca de 80 a 90% do envelhecimento da pele. Entretanto, alguns indivíduos apresentam maior suscetibilidade ainda ao fotoenvelhecimento, que é quando a pele envelhece prematuramente devido à exposição solar em excesso.  Por exemplo, alguns indivíduos podem apresentar uma variante do gene MMP1 que leva a maior produção da enzima MMP1, que em excesso, degrada o colágeno, que é um constituinte importantíssimo da pele, levando a formação de rugas”, conta Dr. Marcelo.

Para piorar, quando esses indivíduos se expõem,  em excesso a luz celular, podem apresentar um aumento da produção de MMP1 até oito vezes maior. Portanto, podem ter 8 vezes mais MMP1 degradando colágeno, o que acelera muito a formação de rugas e o fotoenvelhecimento da pele.

Ainda segundo o pós-doutor em genética, o processo inflamatório subclínico, causado, por estresse, obesidade, falta de sono adequado, má alimentação e falta de atividade física, por exemplo, pode acelerar mais ainda a formação de rugas. 

Entretanto, não é uma sentença, quando entendemos as variantes genéticas que portamos e como elas influenciam a nossa pele, podemos elaborar um cuidado mais eficaz para nos proteger do fotoenvelhecimento, que vai desde a alimentação até a escolha de ativos cosméticos na concentração que precisamos, o que pode levar a manipulação do cosmético personalizado. O que aumenta muito a chance de assertividade.

Principais funções e ativos dos cremes anti-idade

Segundo Dra. Claudia, os cuidados anti-aging devem preconizar a ordem da pirâmide da beleza e saúde epitelial, em que temos itens: fundamentais (hidratação, antioxidantes, enzimas e fotoproteção) para proteção e reparação; transformadores (retinóides e alfa, beta e poli-hidroxiácidos) para esfoliação, melhora da renovação celular e hidratação; e, por fim, ‘otimizadores’ (peptídeos e fatores de crescimento) para estimulação, cicatrização e regeneração celular. 

“A base da pirâmide –  os itens fundamentais – deve fazer parte da rotina skincare de todos, enquanto os cuidados para transformar e otimizar dependerão das alterações que a pele apresenta: rugas, manchas, flacidez, entre outros. Fazer uso de substâncias como alfa, beta e poli-hidroxiácidos assim como retinóides e vitamina C e E associados a peptídeos e fatores de crescimento, além da necessária fotoproteção de amplo espectro com blend de antioxidantes, antiglicantes e deglicantes. Essas devem ser armas de prescrição feitas de forma específica para cada paciente pelo seu dermatologista”, conta ela. 

Dra. Marcelo explica que os cremes anti-idade ainda ajustam a expressão dos genes e, consequentemente, minimizam a formação de rugas e o fotoenvelhecimento. 

Ativos orais dos cremes anti-idade: Antioxidantes, como vitamina C + E, zinco, ácido alfa-lipóico, chá verde, resveratrol, proantocianidinas, isoflavonas de soja, carotenóides, como  licopeno, betacaroteno e vitamina A. Além disso, os ativos ginseng vermelho, clorofila, aloe vera, astaxantina, péptidos de ácido hialurônico + glucosamina + CoQ10 também podem reduzir o processo de fotoenvelhecimento. 

Ativos tópicos dos cremes anti-idade: Protetor solar e cremes antioxidantes (contendo vitamina C + E, CoQ10, chá verde + ginko, resveratrol, ácido alfa-lipóico. Esfoliação, hidratação e redução da linha fina com retinóides, entre outros.

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Quando começar a usar cremes anti-idade

É claro – e cada vez mais divulgado, não só pela mídia, mas falado amplamente em todos os estudos, dentro dos consultórios médicos – que o paciente que começa o tratamento por volta dos 25 e 30 anos está plantando uma boa semente. Como se ele estivesse fazendo a poupança em saúde para a sua pele. 

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Cremes anti-idade podem ser inseridos na rotina de cuidados a partir do 25 anos. Foto: iStock

De acordo com a dermatologista, é muito importante que evitar que os sinais apareçam ou fazer o possível para retardar o aparecimento desses sinais. É essencial começar a fazer um trabalho na pele e criar uma rotina de cuidados e de orientações dos pacientes jovens para que eles não tenham os primeiros danos estruturais precocemente na pele. 

Todos os tipos de pele podem usar cremes anti-idade?

A indicação de um cosmético anti-idade deve ser feita após consulta com um dermatologista, que vai avaliar a real necessidade da pele. Quando o paciente entra no consultório médico, avaliamos a qualidade da pele, em relação à elasticidade, hidratação, presença de manchas, textura, turgor e viscosidade. De modo complementar, analisamos a formação de rugas, presença de linhas dinâmicas por movimentos da face ao sorrir, falar e sulcos como o nasogeniano e glabelar (entre as sobrancelhas).

Tanto a pele oleosa, mista, sensível e seca precisarão de cosméticos anti-idade. Em alguns casos, um exame genético pode ser solicitado para uma resposta mais individualizada e personalizada.

Como escolher meu creme anti-idade

O primeiro passo é procurar ajuda de um dermatologista. As substâncias do creme precisam estar de acordo com o que a sua pele precisa. Com o advento do mapeamento genético DNA da pele com pesquisa de receptores, através da coleta das células bucais através da raspagem da mucosa das bochechas, com um SWAB (tipo de esponja) consegue-se avaliar minuciosamente a composição genética de cada paciente, quais são as mutações que ele apresenta, se estas são totais (com os dois alelos comprometidos) ou parciais (com apenas um dos alelos alterados), demonstrando quais são as predisposições a que a pele está disposta pela herança hereditária que vem mapeada no código de cada um.

“Podemos avaliar se a pele está mais sujeita a inflamações, hipersensibilidade, reatividade, evitando assim exposição a procedimentos mais agressivos, laser mais invasivo, orientando o paciente em relação a como a pele dele vai reagir se houver uma estimulação maior ambiental, como por exemplo ficar exposta ao sol, calor ou mormaço predispondo a pele ao melasma e ao fotoenvelhecimento”, explica Dra. Claudia. 

Ainda é possível avaliar se há maior tendência ao fotoenvelhecimento por haver falta de proteção natural do tecido por apresentar uma barreira de proteção cutânea insuficiente, com degeneração das fibras de colágeno e tendência a acumular radicais livres, superóxidos, espécies reativas que desnaturam as células, evitando a sua regeneração e levando ao envelhecimento de toda a estrutura, desta maneira surgem as rugas, a flacidez, as manchas, a degeneração dérmica e a maior tendência a ter câncer de pele.

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Além disso, é possível saber se o paciente apresenta predisposição as dermatites por ter alteração das filigranas, que fazem com que haja o desenvolvimento da hiper reatividade da pele aos agressores químicos e físicos de contato, sobretudo na área das dobras (cotovelos, joelhos, axilas, pescoço, prega infra glútea, virilha, retroauricular) onde a pele é mais sensível. Importante ainda para analisar se há uma predisposição a doenças autoimunes, quando inclusive há histórico familiar, como por exemplo o vitiligo; susceptibilidade aumentada a desenvolver quelóides após cirurgia ou trauma na pele mais agressivo, como as células se comportam em relação a deficiência de algumas substâncias protetoras como o Selênio e a Coenzima q10, se estas realmente são extraídas da alimentação e absorvidas na quantidade ideal. 

É um exame extremamente minucioso que requer uma boa interpretação do médico para cada caso, para trazer ao paciente a consciência do que é importante para prevenção e tratamento, fazendo uma medicina de qualidade baseada em evidências clínicas e hoje já podemos dizer evidência genética.

Antes de começar a usar cremes anti-idade, consulte seu dermatologista. Foto: iStock

Todos esses exames são capazes de indicar predisposições relacionadas à saúde da pele, através das mutações presentes e da análise conjunta realizada pelo médico clinicamente na inspeção do tecido cutâneo, além de saber do tipo de qualidade de vida relacionada a cada paciente, como por exemplo a dieta rica em açúcares e gorduras, epóxidos presentes na carne grelhada em carvão, no cigarro, na poluição, na bebida alcoólica, no estresse, na fumaça emitida pelos escapamentos dos carros, alimentos muito processados e industrializados ricos em conservantes, corantes sintéticos e aromas em grande quantidade.

A grande vantagem é ter uma ferramenta concreta que mostre todas estas mutações, com a sua penetração alta ou baixa e como podemos utilizar isto a favor da conduta terapêutica tanto domiciliar, na indicação dos cremes.

O sérum ou creme anti-idade deve ser aplicado logo após a higienização e tonificação da pele.

Primeiros efeitos do creme anti-idade

A atuação de um dermocosmético é limitada, uma vez que ele pode até estimular o colágeno e elastina, fibras de sustentação da pele, mas não terá um efeito de um equipamento a laser, um ultrassom ou uma cirurgia mais invasiva. 

“Nós sempre falamos ao paciente, que independentemente da idade, seja aos 40 ou 80, eles podem ter rugas naturalmente, mas precisam ter uma pele tratada, bonita, viçosa, luminosa, tonificada e hidratada, características vistas quando um creme faz efeito. Por exemplo, uma senhora de 80 anos deve ter naturalmente sulcos e marcas, mas essa paciente pode e precisa ter uma pele luminosa, com um quadro de tonicidade e uma pele reconhecida como bem cuidada”, ressalta a dermatologista.

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Se não houver resultados, o que pode estar errado?

Existem algumas razões para o resultado inadequado. A primeira e mais importante é uma indicação imprecisa, quando o paciente compra um produto sem consultar o dermatologista.

Outro motivo é quando o produto está expirado ou você não armazenou o cosmético corretamente. Para manter a durabilidade e a eficácia do produto, é importante armazená-lo corretamente, evitando o contato com temperaturas elevadas, umidade, luz solar e micro-organismos como fungos e bactérias. 

Existem alguns ativos que oxidam com mais facilidade do que outros quando entram em contato com a luz e o ar. Por exemplo, a Vitamina C, muito utilizada em cosméticos anti-idade devido a sua alta propriedade antioxidante, é um ativo mais suscetível à oxidação, o que reduz sua eficácia. Então o ideal é tomar cuidado redobrado com cosméticos formulados com esse ingrediente.

A falta de adequação da rotina skincare à estação também é um erro. Em cada estação, a pele possui necessidades específicas. Por isso, quando trocamos de uma estação para outra, precisamos olhar para nossa rotina skincare e notar que o que está indo bem até então não necessariamente continuará fazendo efeito. Por exemplo, no inverno, a pele fica naturalmente mais seca por conta do frio, baixa umidade, banhos quentes e ventos constantes. 

“Temos que adequar os produtos do necessaire a esse novo momento, procurando por cosméticos com maior capacidade hidratante que privilegiam a pele nessa estação. Por isso, é sempre importante consultar um dermatologista e fazer o acompanhamento com o médico”, finaliza Dra. Claudia. 

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