Relacionamento

Existem afetos reprimidos na infância?

Por Rafaela Monteiro 24/01/2014

Para responder a pergunta do título precisamos nos situar a partir de algum autor, de alguma linha teórica. Pois tal resposta irá depende do autor e do ponto de vista que escolhermos.

A frase do título pode nos fazer lembrar de Freud, mas não vamos usar esse autor para responder, e sim Goldstein (neurofisiologista alemão). Este último afirma que os feitos não conscientes juntos com os conscientes determinam nossas ações e pensamentos.

 

Atitudes X Corpo

As atitudes e os processos corporais podem se alterar por qualquer perturbação das ações voluntárias da consciência.  E as perturbações das atitudes acarretam consequências para os processos corporais e vice versa, pois, toda atitude do organismo deixa um pós efeito que modifica as reações subsequentes, seu curso e sua intensidade.

O desenvolvimento normal do conhecimento, dos sentimentos, atitudes, hábitos, processos corporais, automatismos, habilidades, etc; é o resultado tanto das reações do momento como da experiência anterior. Nesse sentido, Goldstein afirma que o desenvolvimento da criança vem mediante adaptação, maturação e treinamento. Não se encontra uma repressão contínua senão uma formação contínua de novas partes de comportamento. A medida que crescemos o comportamento de nosso organismo vai se formando de acordo com a cultura e o meio em que fazemos parte, e as proibições com que nos chocamos, assim como os processos do ambiente são fatores co-determinantes.

Para esse autor, os efeitos das reações anteriores não são esquecidos por repressão, mas não podem ser recordados por que não formam parte das atitudes da vida posterior, e não podem chegar a ser efetivos. Na infância, há menos repressão voluntária do que elaboração de hábitos novos e adequados.

 

A terapia

Em um ambiente de proteção, como a terapia, o paciente pode se sentir a vontade para revelar seus sentimentos, através de expressões, afetos, estados depressivos, palavras, dente outros. Sentimentos que são da infância ou do presente. Podemos acreditar na ideia de que os sentimentos expressados vem da infância onde foram reprimidos.

Porém, para este autor, aí está o grande erro da psicanálise, pois, em suas palavras: “ainda que sentimentos expressados em terapia possam fazer alusão a infância, eles são falados na linguagem e na expressão adulta.” Nesse ponto, podemos encontrar similaridades com a Gestalt Terapia quando fala do aqui-e-agora, onde afirma que se há um incômodo, mesmo que se refira ao passado, está incomodando no presente, e tem a ver com questões também do presente. Em Goldstein, a ideia de que essas expressões tenham um conteúdo que não pode pertencer a uma criança, só contribui para a afirmação anterior.

Sendo a situação terapêutica uma situação de certa proteção, ela pode levar o indivíduo a uma situação em que sentimentos surjam sem medo, dessa maneira, essa proteção pode capacitar a pessoa para fazer frente a esses sentimentos e verificar que eles pertencem ao passado, a infância, e que não se adéquam ao seu estado atual. Podendo também se dar conta de que está em condições de resolver o conflito buscando uma nova adaptação.

Dessa forma, é necessário o devido reconhecimento do não consciente e também uma correta apreciação do consciente, quando desejamos compreender a conduta humana. Segundo afirma o autor, a partir desse enfoque, a terapia pode se aproximar mais da verdade e o tratamento poderá ser mais curto, podendo então ser mais benéfico para o paciente.