Novas diretrizes, baseadas na opinião de especialistas americanos, podem ter sofrido influência da indústria farmacêutica para aumantar o uso de estatinas para redução do colesterol
Recentemente foram lançados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e pela American Heart Association novas diretrizes para o manejo da dislipidemia. A diretriz brasileira foca em metas de colesterol mais baixas, já a diretriz americana tem uma abordagem baseada no risco do indivíduo em ter eventos cardiovasculares, como infartos ou isquemias. Em comum, as duas diretrizes têm o potencial de aumentar, e muito, o número de pessoas que precisariam tomar estatinas, isto é, medicação para reduzir o colesterol. Eis a questão!
Apesar destas “novas regras” terem sido amplamente divulgadas pela mídia e parecerem soar como “boa notícia” para grande parte da população, precisamos manter o olhar crítico.
As duas diretrizes, em vários pontos, não vão ao encontro da literatura científica disponível. Isto quer dizer que não são embasadas em dados objetivos, advindos de estudos clínicos bem desenhados, mas sim na “opinião de especialistas”. Este é o problema! Tanto o grupo brasileiro quanto o americano não são suficientemente isentos de conflitos de interesse. Ou seja, muitos dos especialistas responsáveis pela redação destas diretrizes recebem dinheiro ou outro tipo de suporte da indústria farmacêutica. Idealmente, qualquer diretriz deve ser desenvolvida por profissionais que possam julgar o que é melhor sem influência, consciente ou inconsciente, principalmente de ordem comercial.
É prigoso usar as estatinas para colesterol?
As estatinas são ótimos medicamentos para quem tem doença cardiovascular estabelecida. Contudo, conforme dados recentemente publicados na revista médica BMJ, para as pessoas que ainda não tiveram infarto ou isquemia e tem risco menor de 20% em 10 anos de tê-los, as estatinas falham em reduzir o risco de morte e tem um custo-benefício questionável, já que pelo menos 140 pessoas precisam ser tratadas para prevenir 1 evento.
Além disso, 18% dos usuários de estatina apresentam efeitos adversos associados ao tratamento como dores musculares e fraqueza, diabetes mellitus, catarata, problemas de ereção e diminuição da capacidade cognitiva. Outro agravante são os métodos utilizados para estimar o risco. Como as calculadoras de risco foram desenvolvidas em momento histórico diferente, não avaliam corretamente a população atual. Estas ferramentas superestimam, isto é, mostram um risco falsamente alto, o que acaba por “criar” mais pessoas doentes.
Não é apenas opinião pessoal. Existe grande debate por trás destas “novas regras”. Dados americanos estimam crescimento potencial de 70% na prescrição de estatinas para pessoas saudáveis após a divulgação das diretrizes. E o grande beneficiário não será você que lê este texto, mas a indústria farmacêutica, além de alguns poucos formadores de opinião.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% do risco de eventos cardiovasculares se deve ao fumo, ao sedentarismo e à alimentação inapropriada. Então, antes de procurar por uma “bala mágica”, mude seus hábitos. Seu coração agradece!
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