Decepcionante! Essa é a opinião de um grupo de estudantes francesas ao assistir “50 tons de cinza“, na manhã desta quarta-feira. Às 6h40 da manhã (horário de Brasília), a sala do charmoso Cinema Gourmont, em Paris, recebeu cerca de 40 espectadores para a primeira exibição do filme na França.
Durante as cerca de duas horas de exibição, com apenas 20 minutos de cenas de sexo, a sala se manteve em silêncio. A euforia só pode ser percebida na última cena, quando Anastasia (vivida pela atriz Dakota Johnson) deixa Christian Grey (interpretado por Jamie Dornan) e tenta voltar para a sua pacata vida. A releitura para o cinema do bestseller da autora inglesa Erika Leonard James, publicado em 2011, será lançado mundialmente na noite desta quarta durante o Festival de Berlin.
Muito diferente do livro
Para Poline Poupinot, 17 anos, “faltaram muitas cenas, eles tiraram a metade das páginas de 50 tons. O livro não é tão romântico quanto o cinema mostrou. Sinceramente, acho que perdi o meu tempo vindo aqui”, desabafa. A jovem Arienne, 19 anos, comparou 50 tons ao filme “A culpa é das Estrelas”. “É um filme extremamente americano. O livro é para adultos, mas as cenas no cinema são para adolescentes. Eu imaginei que seria muito mais picante, envolvente”, diz, decepcionada.
Sophie, de 19 anos, leu os três livros e também ficou desiludida com a trama. “Nenhuma das cenas me surpreendeu. Achei o filme muito morno e não sei se quero ver os próximos. Prefiro ficar com o Christian Grey do meu imaginário“, confessou. A estudante Marie, de 18 anos, foi a única do grupo que não leu o livro e gostou do filme. “Não tenho como comparar, mas achei a história bem contada e fiquei com vontade de ler a trilogia”. Quanto às cenas de sexo, as quatro foram únanimes “Não tem nada demais. A gente esperava muito mais cenas de sexo. O filme não conseguiu o mesmo efeito do livro.”
Efeito 50 tons de cinza
O sucesso do livro contribuiu para uma maior abertura quando o assunto é sexo. Prova disso, é que o mercado de produtos eróticos teve um aumento de 400% nos Estados Unidos, após o lançamento de “50 tons de cinza”. Para o médico e sexólogo Gerson Lopes, o fênomeno literário “50 tons de cinza” contribui para que as pessoas falassem mais sobre o assunto.
Segundo o especialista, o uso de brinquedos sexuais na relação sexual é sadia e deve fazer parte da vida do casal, mas desde que as duas partes estejam de acordo. O médico alerta para quando uma das partes só consegue sentir prazer fazendo o uso de acessórios ou vira escravo das fantasias. “Geralmente, quando esse tipo de prática se torna uma regra, há sinais de algum distúrbio psicológico”, alerta Gerson.
Entrelinhas
O sexólogo Gérson Lopes é favorável que o casal busque criatividade no sexo, como nas práticas sugeridas pelas linhas da autora inglesa. Segundo o especialista, a monotonia nas relações sexuais é o principal causador da inibição da libido. Mas o que está por trás do livro, segundo ele, é a história de duas pessoas doentes. “Ela, como toda a sua baixo auto-estima, era o perfil ideal para entrar no jogo doentio dele, que tem uma dificuldade afetiva muito grande”, esclarece o especialista. Anastasia Steele, como muitas mulheres, tem o inocente desejo de “curar” Christian Grey pelo amor. Mas ele, em contrapartida, não consegue ter sentimento.
Anastasia X mulher brasileira
O sexólogo afirma que a mulher brasileira tem um perfil sexual bastante intrigante e bem contrário ao da personagem Anastasia. “Elas se mostram liberais, mas em quatro paredes elas ainda são muito reprimidas“. Esse comportamento, segundo o especialista, geralmente está ligado ao machismo e ao autoritarismo do homem brasileiro. “Livros e filmes como esses abrem uma reflexão na sociedade e mostram que o sexo não pode ser tratado como um tabu“, enfatiza Gerson Lopes.
50 tons em números
– Mais de 100 milhões de exemplares vendidos nos Estados Unidos
– 20% dos compradores do livros são homens
– 20 minutos de sexo em 120 minutos de filme
– 400% de crescimento nas vendas de brinquedos eróticos no mercado americano
– 13 livros por minuto foram vendidos no Brasil, na época do lançamento, em 2011
– 12 anos é a classificação etária do filme na França. A exibição foi proibida na Malásia
– 5 milhões de dólares foram pagos pelos direitos autorais da obra
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