Uma pequena aldeia na República Dominicana é o lar de crianças que sofrem de uma condição ímpar. Em Salinas, localizada na província de Barahona, no sudoeste do país, acontecem os guevedoces, fenômeno em que uma em cada 90 meninas se transforma em menino quando atinge a puberdade.
Causa é deficiência de uma enzima
As crianças geralmente são criadas como meninas até a puberdade, mas também são referidos localmente como “machihembras” – que significa algo como “primeiro uma mulher, então um homem”. A expressão guevedoces, por sua vez, se traduz como “pênis aos 12”.
Essa situação é bastante comum na República Dominicana, mas é vista ainda nas terras altas do leste da Papua Nova Guiné.
Os profissionais médicos chamam as pessoas que sofrem dessa situação de pseudo-hermafroditas. Ela foi observada pela primeira vez por uma professora da Universidade de Cornell, Julianne Imperato, na década de 70, que descobriu que a transformação está relacionada com hormônios.
A grande maioria das pessoas são concebidas através de códigos genéticos, sendo homens com um cromossomo X e outro Y, e as mulheres com dois cromossomos X. O sexo genético não faz muita diferença nas primeiras semanas dentro do útero, mas aproximadamente a partir do segundo mês de gestação os cromossomos X e Y começam a regular os hormônios sexuais.
Nos homens o cromossomo Y dá início à conversão de testosterona em dihidrotestosterona, hormônio que transforma o tubérculo genital em pênis. Nas mulheres, que não têm diidrotestosterona, ele se transforma no clitóris.
Em pessoas que têm essa condição, elas não são capazes de converter testosterona em diidrotestosterona devido a uma deficiência na enzima 5-α-redutase – é por isso que elas não têm o pênis desenvolvido. Mas durante a puberdade ocorre aumento nos níveis de testosterona, e isso é capaz de fazer pênis, testículos e musculatura do corpo se desenvolverem tardiamente.
É por isso que o fenômeno é encarado pela ciência como causado por distúrbio genético.
Documentário relata a vida dos guevedoces
Uma nova série de documentários da rede de TV BBC, chamados Countdown to Life, acompanha a vida de algumas das pessoas que sofrem dessa condição. Um homem de 24 anos de idade, Johnny, nasceu Felicita. Ele disse à emissora que na infância costumava usar um vestidinho vermelho.
Desde os anos 70, os médicos das aldeias da República Dominicana tornaram-se especialistas em órgãos genitais femininos normais, para distingui-los dos genitais ambíguos de guevedoces bebês.
Na Papua Nova Guiné essas crianças são vistas como “homens falhos”, sendo rejeitadas e humilhadas por famílias e sociedade. Na República Dominicana o nascimento de um pseudo-hermafrodita é aceito e durante a puberdade essa transformação física é inclusive marcada por uma alegre celebração.
Entretanto, nem sempre a conversão acontece porque algumas pessoas preferem fazer cirurgia de mudança de sexo e continuar sendo mulher.
Além disso, a observação médica de que os guevedoces tendem a ter pequenas próstatas levou ao desenvolvimento de uma droga que tem ajudado milhões de homens. Trata-se da Finasterida, que bloqueia a ação da 5-alfa-redutase e é usada para tratar a hipertrofia benigna da próstata e a calvície nos homens.
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