As mais recentes informações sobre a nutrição infantil no Brasil preocupam especialistas. De acordo com as estatísticas levantadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 60,8% das crianças com menos de dois anos de idade comem biscoitos, bolachas e bolos antes dos dois anos.
Os dados divulgados em agosto de 2015 são relativos ao levantamento feito no ano de 2013 em mais de 64 mil domicílios. Outro indicador alarmante referente às mudanças de hábitos na alimentação infantil aponta que 32,3% das crianças já consomem refrigerantes ou suco artificial, também antes dos dois anos.
Nutrição infantil: quanto mais caseira, melhor
O principal cuidado necessário em relação à nutrição infantil se refere, justamente, à necessidade do consumo de produtos naturais. “Até completar um ano de idade, a alimentação do bebê deve ser composta de leite materno, papa salgada, sem gordura e sal, e frutas”, explica a nutricionista clínica Alice Bayer Monteiro.
Segundo ela, não é indicada a ingestão de produtos industrializados de espécie alguma, principalmente os que contêm gordura e açúcar. “A partir do segundo ano de vida, a alimentação deve continuar, se possível, baseada na amamentação, ou leite enriquecido com ferro e vitamina A, e no consumo de legumes, frutas, cereais, leguminosas, carnes e leite ou derivados”, aponta.
Somente a partir do segundo ano de vida é que os industrializados podem começar a fazer parte do cardápio da criança, mas com restrição. De acordo com Alice, o ideal na alimentação infantil é: quanto mais caseiro, melhor. Especialmente para evitar os conservantes, corantes, espessantes, aromatizantes e o excesso de gordura e açúcar presentes nesses produtos.
Refrigerante, suco de caixinha e biscoito
Especialista em nutrição clínica, Adriana Pittelkow confirma que a ingestão de refrigerantes, sucos artificiais e biscoitos pode ser nociva à saúde das crianças menores de dois anos – e não somente a curto prazo.
“O refrigerante é uma bebida que mistura corantes, conservantes, água, açúcar, aroma sintético de fruta e gás carbônico. O consumo da bebida cresceu consideravelmente nos países desenvolvidos entre jovens e adultos, algo que pode estar relacionado com a epidemia de obesidade”, adverte.
De acordo com Adriana, a quantidade excessiva de açúcar presente na bebida, além do sobrepeso, pode causar cáries, acentuar quadros de gastrite e ocasionar diabetes. Diante disso, é impossível avaliar uma dosagem segura para crianças de até dois anos.
É preciso ter cuidado, também, em relação ao suco de caixinha. “Muita gente acha essa é uma escolha saudável. Grande engano. Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) aponta que esses sucos também contêm altos índices de açúcares, corantes e aromatizantes”, acrescenta.
Já os biscoitos recheados possuem uma lista tão grande de ingredientes artificiais, que fica praticamente impossível do consumidor entender o que está ingerindo. Por isso, segundo Adriana, o crescimento das crianças pode ser prejudicado quando as proteínas necessárias são trocadas por embutidos.
Epidemia da obesidade
Segundo a PNS, 56,9% da população brasileira têm peso excessivo. De acordo com as estimativas, o índice pode subir ainda mais, devido ao fato de os industrializados estarem sendo incluídos cada vez mais cedo no cardápio. “Em muitos casos, os hábitos alimentares formados na infância acompanham a pessoa pela vida toda”, enfatiza.
O guia de alimentação do Ministério da Saúde recomenda não dar nenhum tipo de açúcar para menores de dois anos. “Quando a criança consome altas quantias de sódio e adoçantes refinados, seu paladar vai sendo educado para gostar disso”, esclarece a nutricionista.
Adriana ressalta que uma alimentação colorida e sem substâncias artificiais certamente proporcionará mais saúde à criança na fase adulta. “Lembre-se de que os filhos são o reflexo dos pais. Por isso, tenha paciência, faça receitas criativas e incentive a criança a comer melhor”, conclui.
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