Guia do Câncer

Você acha que há vida após a cura do câncer?

Por Dr. Bruno Pozzi 10/12/2013

cura do câncer

Um dos maiores problemas no câncer não é orgânico, mas sim o impacto psicológico causado, tanto no curto quanto no longo prazo. Apesar dos avanços da medicina no tratamento e na detecção precoce em oncologia, temos muitos vestígios da noção que nossos avós possuíam sobre a doença. Os antigos viam o câncer como “doença ruim”, sinônimo de morte, e o impacto cultural desta percepção é sentido de maneira constante em nosso cotidiano. Será que há vida feliz depois do câncer?

 

Quando ocorre a cura do câncer?

Como já mencionei em textos anteriores, dá-se o título “curado” para o paciente que sobreviveu 5 anos sem doença após o fim do tratamento. Esse tempo é  algo arbitrário, pois nunca ninguém está isento de riscos, seja ele um câncer que “volta”, ou uma doença “nova.” Basta estarmos vivos para termos chance de adoecer, é o que digo aos meus pacientes. No lado positivo, sabemos que estatisticamente após 5 anos o risco cai a seus níveis mais baixos, e sim, podemos afirmar com tranquilidade para a maioria de nossos pacientes que a cura ocorreu. O que ocorre depois dessa (boa) notícia?

A vida depois da cura não é a mesma que a antes da doença. Com meus (ainda) poucos anos na área, começo a ter meus primeiros pacientes se curando pela definição médica da palavra. Eles não são as mesmas pessoas que conheci ha 6 anos atrás. São pessoas geralmente mais fortes, mais resolvidas, dão mais valor à sua vida. São também mais receosos, como uma “cicatriz” que fica para sempre em sua mente e seu espírito. Em maior ou menor grau, todos eles se lembram do que passaram, e carregam eternamente consigo o peso dessa batalha.

cura do câncer

 

Quais são as consequências de longo prazo?

Algumas cicatrizes orgânicas também existem, e variam de doença para doença, de pessoa para pessoa. Alguns exemplos corriqueiros: a sequela da mastectomia (a retirada da mama), que pode causar dor crônica e limitação de movimentos. A colostomia (o intestino ligado a uma bolsa que fica presa na parede do abdome), que traz problemas sociais e funcionais. Temos também a fadiga crônica, dor recorrente, inchaço, etc. Obviamente com o avanço dos tratamentos essas sequelas vem se reduzindo em frequência e intensidade de maneira significativa, mas estão longe de desaparecer por completo.

 

Como combater esses problemas de longo prazo? Para mim só há uma resposta: Apoio multidisciplinar

Uma deficiência que temos no meio da saúde é o apoio de longo prazo para esses pacientes. Isso vale tanto para o sistema público quanto para o privado. Idealmente os sobreviventes deveriam ter a oportunidade de serem acompanhados por especialistas de maneira duradoura.  Conheço pessoas com colostomia há anos, que aprenderam  a se aceitar e a ter uma vida normal, apesar de sua nova condição. Tenho outros no entanto que sofrem demais com a bolsa. O auxílio tem que vir com uma equipe de saúde coesa. Enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos… todos tem uma parcela extremamente importante na reabilitação física e psicológica desses indivíduos que já passaram por tantas batalhas.

O que quero concluir é que, embora a maior batalha já tenha sido vencida, a guerra continua sendo travada dia a dia. O sobrevivente de câncer é um herói, só ele sabe o que teve que passar. Nós só podemos imaginar, e dar todo apoio que ele merece. A vida depois do câncer existe, e pode ser muito boa, só precisamos todos trabalhar juntos para que isso aconteça.

 

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