Talvez você já tenha ouvido falar do transtorno de personalidade dependente. Mas saiba que pode ser algo que afete diretamente pessoas de sua relação ou até você mesmo. Trata-se de uma alta necessidade de ser cuidado, levando a comportamentos submissos e um grande medo de ser abandonado.
“A pessoa com transtorno de personalidade dependente tende a ser insegura, tem a crença de que não é capaz de agir ou tomar decisões sozinha, precisando sempre da opinião do outro”, como explica a psicóloga clínica Jaluza Aimèe Schneider, que atua no Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), em Novo Hamburgo (RS).
Transtorno de personalidade dependente e medo
A pessoa com esse transtorno, por ter medo de ser rejeitada, age com base no que o outro deseja, apresentando submissão frequente frente a familiares, cônjuges e amigos.
Também pode se perceber tais comportamentos sintomáticos em ambientes profissionais, por exemplo, levando o indivíduo a não realizar tarefas sem supervisão constante de colegas de trabalho, podendo ocasionar em desentendimento no grupo de trabalho.
De acordo com a psicóloga, geralmente, o transtorno de personalidade dependente se manifesta no início da vida adulta, quando o indivíduo começa a ter de tomar decisões e obter responsabilidades de adulto, e é mais prevalente entre as mulheres.
“Os sintomas vão ser percebidos mais facilmente por alguém fora da família nuclear, o cônjuge, por exemplo, pois os cuidadores podem reforçar os comportamentos dependentes, sem entender como algo fora da normalidade”, comenta.
Segundo a especialista, alguns estudos epidemiológicos sobre esse transtorno evidenciam que esses indivíduos tendem a ter crescido em famílias muito protetoras e autoritárias, sem estimulação à sua independência.
Porém, quando se trata de personalidade, não se pode falar sobre causa e efeito, pois seu desenvolvimento depende de uma variação de aspectos biológicos, sociais e psicológicos.
Transtorno de personalidade dependente e carência
Há quem confunda o transtorno com carência. Mas, de acordo com Jalusa, quando se fala em carência, fala-se da falta de algo na vida, como o afeto. A carência afetiva faz com que a pessoa busque cessar seu sentimento de solidão e sua falta de carinho apoiados em outra pessoa.
O carente pode ter comportamentos submissos por medo de se ver sozinho. “Em outra perspectiva, o indivíduo com personalidade dependente busca no outro uma forma de funcionamento, pois se considera incapaz de se adequar no mundo sem a ajuda e afirmação externa”, completa.
A carência, de acordo com Jalusa, vai se referir a períodos e situações específicas, identificadas como momentos de carência. Já o transtorno de personalidade dependente vai se tratar de um padrão global do que ela chama de funcionamento desadaptativo ao longo de toda a vida em relação à necessidade de ser cuidado.
“O sentimento de carência não se trata de uma patologia, e não pode ser confundido com um transtorno de personalidade dependente. Sempre devemos ver o transtorno de personalidade como algo que excede os padrões culturais, com medos excessivos e irreais de possibilidade de abandono, o que não se percebe em alguém carente”, explica.
A falta de autonomia dificilmente é percebida pelo próprio indivíduo, sendo mais comum ser relatada pelos familiares. O tratamento para esse tipo de transtorno se dá por meio da terapia, com foco nas crenças irreais sobre a incapacidade da pessoa na busca por reestruturar esses pensamentos. Em alguns casos, pode haver necessidade de medicação.
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