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Qualidade de vida sexual: os brasileiros são tão felizes na cama quanto dizem?

Por Ana Paula Veiga 13/05/2014

qualidade de vida sexual

Arrumando algumas revistas no consultório, deparei-me com uma matéria que dizia que, embora a maioria dos brasileiros se declarem felizes na cama, há ainda muitos problemas relacionados à qualidade de vida sexual que precisam ser superados.

Em razão de questões históricas, transar muito, e bem, faz parte do ideal da cultura brasileira. No entanto, o que muitos querem, poucos conseguem. A idéia do hedonismo, trazido com a contracultura, levantou bandeiras que acabaram desconfiguradas, como foi o caso do prazer e do orgasmo feminino.

Onde antes havia repressão, passou-se à liberação, transformada, em seguida, em obrigação. Obrigação do prazer e de atingir metas, não só em relação aos orgasmos femininos, mas à quantidade de relações sexuais, que devem ser reveladas, como se fossem garantia de qualidade de vida sexual, satisfação e felicidade.

Pesquisa: qualidade de vida sexual do brasileiro

Através de uma extensa pesquisa baseada na qualidade de vida sexual, percebeu-se que a satisfação dos brasileiros beira os 68% para os homens e 60% para as mulheres. Mas o que mais me chamou atenção foi que 8% deles e 14% delas alegaram ter uma vida sexual ruim ou muito ruim. Deixando os números de lado e pensando no conjunto da pesquisa, o resultado traz uma contradição entre aquilo que os pesquisados dizem de si e dos parceiros.

Façamos uma pausa aqui para lembrar que, mesmo que as pesquisas sejam seguras, ainda assim, não garantem respostas sempre honestas. Gostaria de ressaltar que, de fato, os brasileiros ainda não usufruem inteiramente da sexualidade, como concluiu a própria pesquisadora. Tal constatação remete à personalidade desse povo, que sabe que não está bom, mas está bom do jeito que está. Muitos nem se questionam sobre o assunto, porque isso seria reconhecer uma inferioridade, uma falha. Assim, infelizmente, nem todo brasileiro se diverte na cama, como diz ou como gostaria.

As dificuldades sexuais ainda são rotineiras, como é o caso da falta de desejo feminino, que atinge 35% das mulheres entrevistadas. Do ponto de vista médico, já foi mais do que provado que a causa dessa disfunção costuma ser emocional, e não desencadeada por limitações físicas. E aqui, no Brasil, onde mulheres têm um restrito padrão corporal a ser seguido, ditado pela moda e pela mídia, a cama se transforma num temido palco.

Por outro lado, a barriguinha masculina, tão bem cultivada pelo excesso de cerveja, não traz o mesmo resultado: somente 12% dos entrevistados relataram falta de desejo sexual. O que interfere nos homens, levando a quadros como a disfunção sexual, são os estereótipos do macho perfeito, aquele ressaltado pela mídia: um cara muito bem-sucedido, que sabe dividir as tarefas e que gosta de discutir a relação.

Mas o que será que aconteceu para transformamos um instinto que é natural em algo cheio de censuras? Falando nela, remeto-me à erotização precoce instalada na nossa sociedade, incentivada pelos comerciais, músicas… Os produtos dirigidos ao grande público estão marcados por alusões ou situações explícitas. Essa intensa sensualização atinge a infância, estimulando as crianças ao sexo, numa época em que não estão preparadas para isso.

Hoje já sabemos que o desejo e a intensidade sexual variam de acordo com os fatos ao longo da vida. Hormônios transbordando na adolescência, curiosidade, alta oferta e tempo disponível colaboram para um alto número de atividades sexuais. Mas, volto a insistir, a falta de experiência ou a precipitação, muitas vezes, faz com que se perca todo o resto. Em paralelo, na vida adulta, ganha-se de um lado, mas perde-se do outro. O conhecimento aumenta; o foco no trabalho, a rotina com a família e o casamento tiram do casal momentos de intimidade.

De forma geral, o estudo sobre a qualidade de vida sexual do brasileiro, realizado em 2003, concluiu que o que mais atrapalha o desempenho sexual masculino é o cansaço, a rotina e a parceria antiga. Para as mulheres, a lista é quase parecida: cansaço, rotina e falta de tempo. Já o que contribui para o bom desempenho e satisfação sexual, nos homens, é a atração física, tempo suficiente e intimidade. No Do lado feminino, o relacionamento com afeto, intimidade e um ambiente propício.

A verdade é que, enquanto as pessoas se preocuparem com os duvidosos resultados dessas pesquisas, estaremos desperdiçando o prazer que o sexo pode trazer. Tentar se achar em tais números é se perder diante de grandes possibilidades.

 

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