Clínica Geral

Conhecendo a vagina: ginecologista ressalta a importância de a mulher entender melhor para saber como cuidar

Por Dr. Bruno Ramalho de Carvalho 27/03/2014

Mais do que simplesmente as questões de higiene, conhecendo a vagina as mulheres têm a possibilidade de perceber quais são alterações naturais e quais merecem maior atenção

conhecendo a vagina

Falar sobre a vagina nem sempre é tarefa fácil: carrega tabus e uma inevitável timidez, que tangencia protocolos de comportamento social. Mas ela, a vagina, é órgão de extrema importância e a mulher deve entendê-la, saber melhor como é o seu funcionamento.

conhecendo a vaginaPrimeiramente, é importante diferenciá-la da vulva, que é a parte externa da genitália feminina (que é o que se vê normalmente), composta dos lábios maiores e menores, e do vestíbulo (também chamado de intróito, que a entrada propriamente dita da vagina). A vagina de fato é a primeira porção da genitália interna, a que se relacionam, de forma simplista, quatro papéis básicos em mulheres com funções orgânicas e anatomia preservadas: permitir a relação sexual com penetração (intercurso, coito), garantir o acesso dos espermatozóides à cavidade uterina, fornecer passagem ao fluxo menstrual e ao bebê, no parto normal (vide a figura).

Inúmeros fatores podem interferir no funcionamento da vagina ao longo da vida da mulher, levando a variações das funções percebidas acima e comportamentos diversos, ora com desconforto (principalmente quando não se compreende o que está acontecendo). Idade e estado hormonal (período fértil, pré-menstrual, gravidez, uso de anticoncepcionais e menopausa, por exemplo) são fatores de interferência, assim como o fazem excitação sexual, presença do sêmen ejaculado, do sangue menstrual, de medicamentos, bactérias, óleos afrodisíacos etc.

Conhecendo a vagina

As “secreções” vaginais

As “secreções” vaginais são motivo de grande número de consultas ao ginecologista, principalmente pela suspeita da presença de infecções e a associação com doenças de transmissão sexual. Mas o fato é que grande parte dos fluxos vaginais resulta exclusivamente da interferência dos fatores variáveis ao longo do ciclo reprodutivo. Com essa informação, de fato, não quero dizer que a consulta ao ginecologista seja desnecessária, mas apenas que os “corrimentos” sem odor, coceira ou ardência associados não devem, em geral, ser motivo de angústia.

Os fluxos vaginais não-infecciosos são resultantes principalmente da descamação das células da vagina, para sua renovação, e do metabolismo das bactérias que a colonizam para manutenção de seu equilíbrio, os lactobacilos. Isso ocorre pela ação do estrogênio e é fundamental para que se mantenha a acidez protetora habitual (sim, a vagina é habitualmente ácida!). Também a secreção de glândulas (como a de Bartholin), o muco produzido no canal do colo uterino, no endométrio e nas trompas compõem os fluxos vaginais naturais.

conhecendo a vaginaE os corrimentos problemáticos? Bom, esses podem estar associados a uma série de condições que, juntas, compõem o grupo das vulvovaginites. Antes de continuar, é muito importante frisar que na maioria das vezes os corrimentos não estão associados a doenças sexualmente transmissíveis ou falta de higiene íntima. Podem tanto acometer mulheres em idade reprodutiva quanto menopausadas, pelo estresse excessivo, uso de roupas inadequadas, doenças existentes (diabetes, por exemplo), tabagismo, etc.

Vulvovaginites 

Os principais agentes relacionados a vulvovaginites são fungos (Candida spp), bactérias (a Gardnerella vaginalis é a mais conhecida) e protozoários (Trichomonas vaginalis).

Candidíase vulvovaginal, então, é o nome dado ao quadro de inflamação da vulva e/ou da vagina causada por fungos do gênero Candida, que, quando proliferados em excesso, podem levar a sintomas como coceira, ardência, vermelhidão e corrimento. Existindo tais sintomas, o médico ginecologista deve ser consultado, para confirmação diagnóstica e instituição do tratamento mais adequado a cada caso.

Nem sempre é fácil tratar a candidíase e há quadros de repetição muitas vezes desafiadores. A mudança de hábitos, contudo, costuma ser a tônica das recomendações. É importante evitar o uso indiscriminado de sabonetes e cremes, principalmente aqueles que não respeitam as condições naturais da vagina, assim como é importante evitar o uso muito frequente e repetido de roupas feitas de tecidos sintéticos e muito justas. Próximo às férias de verão, é muito importante frisar que os longos períodos com roupas de banho úmidas podem favorecer a proliferação dos fungos.

Ao contrário do que muitos pensam, a vaginose bacteriana, comumente associada à Gardnerella, é a principal causa de corrimento vaginal em mulheres jovens. Não se sabe ao certo por que motivo ocorre a proliferação dessa e de outras bactérias associadas ao problema, mas fatores como o tabagismo podem ser predisponentes. Um diferencial do corrimento por fungos é o odor desagradável e este é um aspecto importante a ser informado durante a consulta médica.

A tricomoníase, por sua vez, também pode levar a corrimento de odor desagradável. Por isso, não se deve utilizar qualquer creme vaginal para tratamento e a avaliação pelo ginecologista torna-se fundamental para o correto tratamento. Um aspecto importante é que, dos três quadros mencionados, este certamente acomete o parceiro, que deve ser devidamente tratado.

Causas outras de corrimento vaginal existem, mas, de certo, essas serão as mais ouvidas por mulheres em consultórios ginecológicos. O importante é procurar o ginecologista no início do quadro, para que o incômodo excessivo não induza à auto-medicação, ao uso de creme vaginal inadequado e, consequentemente, à perpetuação de um quadro que pode se tornar resistente.

Higiene íntima 

conhecendo a vaginaÉ muito importante iniciar a discussão deste assunto lembrando que a vagina é um órgão capaz de realizar, habitualmente, sua própria higiene, ficando as medidas de higiene restritas a vulva, períneo, região perianal e virilhas, sulcos entre os lábios e clitóris. Ainda, deve-se frisar que excessos na higienização genital podem até dificultar os mecanismos de limpeza próprios do organismo, promovendo desequilíbrios com potencial interferência sobre a flora vaginal natural.

O ambiente vaginal é dinâmico e pode sofrer alterações eventuais, mas, de modo geral, a flora vaginal normal é constituída por diferentes espécies de lactobacilos que inibem o crescimento e a proliferação de outros microorganismos estranhos à vagina.

O higiene íntima da mulher deve promover a remoção de resíduos acumulados, que, em condições normais, não seriam removidos somente com o uso exclusivo de água. Vários tipos de produtos estão disponíveis no mercado para tanto, apenas para uso externo e não são indicados para fazer duchas vaginais ou tratar infecções. É muito importante entender: não se recomenda a introdução de água e/ou produtos de higiene quaisquer no interior da vagina. Portanto, não faça isso!

O que utilizar? 

Os sabonetes em barra são os mais comumente usados para higiene genital feminina, com vantagens como a produção de espuma cremosa e perfume. Mas, geralmente, sabonetes são alcalinos ou neutros, com pH diferente do pH fisiológico da genitália externa. O uso rotineiro, dessa forma, pode trazer problemas, como ressecamento, diminuição da acidez e a maior probabilidade de contaminação pelo uso compartilhado por outras pessoas da casa.

Os sabonetes líquidos hipoalergênicos e com detergência suave estão menos associados a reações alérgicas e seu uso permite a manutenção parcial da camada de gordura que protege a pele da vulva. Ainda, vários produtos tem como base o ácido láctico e mantêm o desenvolvimento e a saúde das células da pele da vulva.

Independentemente da escolha, deve-se atinar para práticas saudáveis de higiene. Nos dias mais quentes, a higienizarão pode ser realizada de uma a três vezes por dia; nos dias frios, um episódio de limpeza costuma ser suficiente. Sulcos entre os pequenos e grandes lábios, clitóris, púbis, virilhas e raízes das coxas devem ser limpos preferencialmente com água corrente e que atinja todas as dobras, evitando movimentos bruscos e os que tragam conteúdo da pele ao redor do ânus para a região vulvar. Os produtos de higiene podem ou não ser utilizados; preconizam-se os líquidos, hipoalergênicos, com detergência suave e pH variando entre 4,2 e 5,6.

Manter bem seca a região genital é passo fundamental para evitar a proliferação de bactérias, fungos e vírus. Para isso também, o uso de roupas folgadas e de algodão favorece a ventilação local, assim como é saudável abolir o uso de calcinha para dormir. Por fim, os absorventes externos no período entre os fluxos menstruais deve ser evitado (caso seja escolha utilizá-los, preferir os que permitem aeração da vulva).

Situações diversas, como o puerpério, o período menstrual, o climatério, a infância, entre outros, podem impor outras recomendações de higiene íntima, que devem ser discutidas com o ginecologista. A consulta pode ser de grande valia para solução de dúvidas quanto à higiene íntima e outros assuntos cotidianos femininos.

Consulte seu médico sempre que preciso, ok? É isso!

 

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